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Professor Wescley Dinali


Nome: Wescley Dinali

Nascimento: 28/08/1980

Naturalidade: São João Del Rei - MG

Escolaridade: Mestre em Educação, Doutorando em Educação

Profissão: Professor Pesquisador

Atividades: “Agitador contracultural inquieto eheheheh. Incomodo muitos no Underground e fora dele com meu projeto de Harsh Noisecore A.V.N. (Anarco Vomit Noise). Mantenho ativo o micro selo Depressive Noise Records com lançamentos caseiros e com materiais reciclados. Também estou envolvido com o coletivo Ocupa Noise Guerrilha”.


ABDUÇÃO EXTREMA – Meu amigo Wescley, primeiramente gostaria de lhe agradecer por esta entrevista, e também, lhe parabenizar pelo seu papel tão importante e fundamental em nossa, e para nossa sociedade! Infelizmente, uma grande parcela desta sociedade não vê desta forma, tanto quanto o próprio Estado não o vê:

WESCLEY DINALI – Primeiramente, gostaria de agradecer pelo espaço cedido nas páginas de seu fudido zine. Como já conversamos algumas vezes, mesmo pessoalmente, sou um grande apreciador do seu trabalho como zineiro eheheh, vida longa ao Abdução Extrema. Sempre digo, e gostaria de afirmar novamente que os zines são fundamentais para o fortalecimento do Underground. A imprensa alternativa não pode parar eheheheh. Valeu pelas palavras, penso que você se refere à minha atividade como professor, tenho muito orgulho da minha profissão e sempre digo que não me vejo desempenhando outro papel na sociedade. Existe sempre a falácia de políticos, da mídia oficial, de pessoas buscando valorizar o professor, no entanto, é fato que na prática existe uma desvalorização do mesmo. Basta olharmos as condições precárias de trabalho na qual os professores estão inseridos, bem como salários baixos, crescente violência nas escolas, desrespeito à própria profissão, cargas horárias excessivas, baixo investimento financeiro por parte do Estado e por aí vai... Não é preciso saber muito, ser um especialista para dizer como isso afeta fisicamente e psicologicamente os professores que mesmo diante destas circunstâncias, muitos dão seu sangue para a continuidade do processo de ensino e aprendizagem. O fato é que ser professor hoje, não é mais uma carreia cogitada pela maioria das pessoas. Chegamos a um ponto que poucos querem encarar essa realidade desgastante e árdua que é ficar horas e horas em pé, ter gastos do próprio bolso, noites e noites sem dormir, aguentar abusos de alunos e mesmo de profissionais da educação, espaços precários de trabalho e total insegurança. Posso dizer que a desvalorização moral e financeira do professor tem afetado e muito o processo de ensino e aprendizagem nas salas de aulas brasileiras. Com tanta falta de estímulos o profissional da Educação tem deixado de lecionar e com isso tem buscado outros caminhos profissionais. É uma realidade triste e devastadora da condição docente.


ABDUÇÃO EXTREMA – Acredito que para chegar ao doutorando em educação você deva ter percorrido um longo caminho, desde a faculdade até sua atuação como professor especificamente... Por quanto tempo lecionou, qual a disciplina e em qual rede de ensino?

WESCLEY DINALI – Nossa nem fala amigo, são longos e longos anos, posso lhe dizer que minha formação começou aos 7 anos de idade quando tive meu primeiro contato com o espaço formal educacional, ou seja, a escola. Primeiramente o ensino de base, fundamental e médio, depois o curso técnico, posteriormente o ensino superior e a pós-graduação, em suma, o mestrado e atualmente o doutorado que ralei muito para romper o bloqueio elitista da pós-graduação, uma vez que minhas origens são de família pobre. Atuei em todos os seguimentos da educação formal, do ensino de base à pós-graduação, todos em instituições públicas, penso que ao todo foram cerca de 10 anos. Atualmente me dedico à atividade de pesquisa.

ABDUÇÃO EXTREMA – Parabéns por todo seu esforço e dedicação! Quais foram ou ainda são as principais dificuldades no exercício de sua profissão?

WESCLEY DINALI – Obrigado Luís, realmente não é nada fácil, mas contei e conto com a ajuda de muitas pessoas que sempre me deram e dão forças para seguir, caso contrário não seria possível. Bem, existem diversos fatores que se somam e acabam por desestimular a atuação docente, se fosse pontuar ficaríamos horas e horas discutindo sobre tais questões. A meu ver, existe as dificuldades que vão das condições físicas das escolas à falta de recursos materiais, muitas vezes básicos como salas de aulas mal ventiladas e sem conservação, falta de laboratórios, bibliotecas, espaços para esportes e lazer, material didático, informatização e outros suportes fundamentais para o efetivo processo do ensino e aprendizagem. Para você ter uma ideia já atuei em uma escola que nem recursos para fotocópias existiam. Somado a isso existem também as questões de sobrecarga de trabalho, pressão constante, baixos salários e principalmente a violência que enfrentamos atualmente nas escolas. Professores e alunos sendo agredidos verbalmente, psicologicamente e até mesmo fisicamente, conheço diretor que já foi agredido com uma tesourada no pescoço. O resultado disso é o constante desestimulo e adoecimento da classe, depressão, síndrome do pânico, além dos problemas físicos logicamente. Estamos enfrentando um período bem obscuro para a prática docente e não vemos empenho por parte dos ditos “governantes” repensando ou buscando maneiras e mesmo políticas públicas que possam repensar sobre tais condições que a Educação brasileira tem enfrentado. O professor é praticamente um guerreiro solitário no interior das trincheiras escolares.


ABDUÇÃO EXTREMA – Você chegou ao ponto crucial da nossa conversa! O tema principal desta edição, você sabe, é sobre a violência sofrida por professores e professoras dentro da escola! Então eu lhe pergunto: já sofreu algum tipo de violência física ou verbal por parte de alunos ou seus familiares?

WESCLEY DINALI – É triste dizer meu amigo, porém posso lhe destacar que sim, física nunca, no entanto psicológica e verbal algumas vezes. Todavia, gostaria de ressaltar que as experiências positivas, na minha trajetória, felizmente sobressaem. Ser professor é sobretudo uma ação política de resistência, de desejo e é isso que me motiva a continuar na prática docente.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sabemos que muitos desses casos de violência e indisciplina atribuem-se a alunos que vivem conflitos dentro de sua própria casa, contra os próprios pais que possuem um histórico de violência, muitas vezes alcoolismo, dificuldade financeira, enfim, uma série de fatores... Diante deste tipo de situação de conflito com alunos, qual a postura que você adota para resolver o problema?

WESCLEY DINALI – Diálogo, experiências e práticas que possam proporcionar, superar e ir além de práticas pedagógicas conservadoras e autoritárias. Não creio em ações punitivas nas quais muitos professores acreditam e se baseiam. Penso que somos frutos das relações sociais, toda essa violência, miséria que enfrentamos cotidianamente nas escolas são geradas de uma realidade social baseada em uma discrepância social e econômica, na discriminação, na individualidade, na concorrência, na falta de solidariedade etc. De alguma forma, todos somos responsáveis pelas condições sociais, políticas e econômicas que estamos vivendo. Desta forma, o que podemos ou estamos fazendo para mudar tal situação? No que se refere à prática docente, o que estamos ensinando? O que significa ensinar e aprender? Conhecer? Qual o papel do professor nesse processo de provocação de ensino e aprendizagem como política contestatória do status quo?


ABDUÇÃO EXTREMA – Exatamente, todos somos responsáveis por essas condições! Qual a faixa etária dos alunos aos quais você leciona?

WESCLEY DINALI – Bom, geralmente trabalho com adultos, difícil precisar agora, acho que vão de 18 a 50 anos, por aí. Tenho me dedicado mais precisamente a formação de professores, atuando em diferentes cursos de licenciatura, como Pedagogia, Educação Física, Química, Biologia etc., principalmente lecionando Filosofia e Sociologia da Educação. Mas já trabalhei com os pequenos de 6, 7 anos e também com adolescentes.


ABDUÇÃO EXTREMA – Além dos ensinamentos específicos de sua formação, você procura passar outros ensinamentos ou mensagens para seus alunos?

WESCLEY DINALI – Claro, pois tudo que vivencio como experiência cotidiana de vida, não só na academia, diz respeito a minha formação como sujeito social, portanto não estou deslocado de tudo isso. Tudo que leio, vejo, sinto, respiro, expulso, enfim, vivo, de alguma forma reflete na minha formação e na do outro, seja na sala de aula ou fora dela. E posso lhe afirmar que aprendo muitas coisas com meus alunos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Como você avalia a importância de sua função, seu papel como professor?

WESCLEY DINALI – Não colocaria em questão, sobretudo na imanência avaliativa. Vejamos, penso que o educador, quando educador claro, tem um grande potencial de mediador do conhecimento, mais precisamente um grande potencial político transformador, não autoritário, não fascista, talvez. Não estou falando de grandes revoluções, antes microrevoluções. A beleza ético-estético-política do educar é justamente essa possibilidade de devir revolucionário de si e do outro nas trincheiras escolares. Sempre penso o cotidiano escolar como um espaço de guerra, micro ações políticos contra as imposições sociais que nos controla e nos domina.


ABDUÇÃO EXTREMA – Suas respostas soam como poesia meu caro... Hehehe! Qual sua profissão anterior?

WESCLEY DINALI – Hehehehh, longe de mim ser um poeta, apesar de ser um amante confesso da poesia. Luís, já tive outras ocupações, bem cedo aliás, comecei trabalhando em uma ótica com 13 anos de idade, polindo lentes e montando óculos. Fui pai muito jovem, desta forma, veio a responsabilidade familiar precoce, assim trabalhei como ajudante de pedreiro, atendente de loja, Técnico em Segurança do Trabalho e posteriormente professor. Sempre trabalhando e estudando, pois, como lhe disse anteriormente sou de uma família numerosa e pobre.


ABDUÇÃO EXTREMA – Também sou Técnico em Segurança no Trabalho, quer dizer, era! Abandonei essa função em 2001... Continuando e quase concluindo este tema, você já se emocionou assistindo o filme “Ao Mestre com Carinho”? Pode falar a verdade... Hehehe!

WESCLEY DINALI – Interessante, então você sentiu na pele como é complicado essa ocupação hahahah. É um filme emocionante sim kkkkkkk. Para falar a verdade já até trabalhei com ele em sala de aula.


ABDUÇÃO EXTREMA – Eu o assisti várias vezes, o considero um clássico do cinema. Um filme com um final feliz pelo menos. Ok meu amigo, finalizando este tema, de acordo com toda sua vivência no âmbito escolar, quais seriam suas sugestões para que houvesse de fato, uma reforma educacional coerente? Ou você acha que antes da reforma educacional, deveriam existir muitas outras tantas reformas? Enfim, sinta-se a vontade em comentar sobre isso:

WESCLEY DINALI – Está aí uma questão de extrema complexidade e que demanda muitas discussões, meu amigo! A situação da educação brasileira, suas contradições, sua fragilidade, a meu ver, tem sua gênese já nas ações reformistas propostas por Marques de Pombal durante o governo de Portugal. Nossa situação educacional tem sido alvo de muitas críticas, estamos no ranking das piores do

mundo. Tem se levantado muitas questões por parte de educadores, pesquisadores, sociedade em geral. Penso que a origem da má qualidade que enfrentamos estejam ligadas a muitos fatores sociais, políticos, econômicos, geográficos etc. Precisamos de uma reforma radical do ensino desde a primeira etapa do ensino básico até a graduação e pós-graduação.


Anarco Vomit Noise em Ação no São Caos 2015

ABDUÇÃO EXTREMA – Cara, adorei suas respostas! Realmente é um assunto muito complexo, toda essa situação atual em que vivemos é consequência de uma série de fatores que vem desde o início de nossa história! Mais uma grande aula aqui para nossos leitores e leitoras... Agora sim, vamos falar um pouco do Wescley e suas atividades no submundo! Gostaria de saber sobre os seus primeiros dias na cena Underground, como e quando você teve o seu primeiro contato? Qual foi a primeira banda que despertou seu interesse? Seu primeiro disco ou fita, enfim, diga-nos sobre o início de sua trajetória!

WESCLEY DINALI – Valeu Luís, fico feliz por isso. Cara, acho que como a maioria comecei curtindo Rock’n’Roll heheheh, e ainda curto, claro hahahahah. Tinha um cunhado que possuía vários discos, sempre ia na casa da minha irmã e ficava ouvindo algumas coisas como Led Zeppelin, Pink Floyd, AC/DC, Ramones etc. Para falar a verdade a sonoridade que mais me afetou foi a do Ramones na época. Depois disso as coisas foram ficando mais sérias com o Punk e o Metal, e meu gosto foi piorando hehe. Dentro das limitações de uma cidade do interior tive contato com Kaaos, Anti-Cimex, Ratos de Porão, Napalm, INRI do Sarcófago, zines, cartas e nunca mais consegui sair disso que conhecemos como Underground. Tinha um camarada aqui que possuía um sebo de discos, daí sempre garimpava alguma coisa por lá, depois ele se matou dentro da loja. Era foda aqui no interior conseguir algum material fudido, hoje é muito fácil, já nos anos 90 era complicado demais cara.


ABDUÇÃO EXTREMA – Se era complicado, ainda mais nos anos 80! Você se lembra do primeiro show em que foi? Quais as bandas que tocaram e quando foi?

WESCLEY DINALI – Cara, aqui nunca acontecia nada além de bandas tocando cover, então não me ligava muito na “cena” local. Também não tinha grana para viajar para outros estados, era complicado. Lembro que na adolescência algumas vezes fui em BH em alguns eventos, porém não me recordo qual foi meu primeiro show, infelizmente. Uma dessas gigs em Belo Horizonte uma banda que me marcou muito na época foi o What Happens Next, não curto a banda, mas esse show foi foda, acho que tinha uns 17 ou 18 anos, sei lá por aí heheheheh.


Anarco Vomit Noise

ABDUÇÃO EXTREMA – Em se tratando de produzir, qual foi sua primeira atividade? Uma banda, um fanzine?

WESCLEY DINALI – Bom, no final dos anos de 1990 tocava em uma banda de Splatter Noise Gore que gravou algumas demos bem podronas, não curto mais os materiais, apenas o primeiro. Nos anos 2000 editei o zine Trauma que teve 2 ou 3 edições acho. Essas foram minhas primeiras atividades no Underground.


ABDUÇÃO EXTREMA – E como se chamava essa banda?

WESCLEY DINALI – Genital Tumour ahahhaah. Era um projeto muito influenciado pela cena Gore/Splatter na época, principalmente por filmes undergrounds do gênero, em suma, trash, gore etc. Ainda sou uma amante do cinema bizarro e underground, porém, não gosto muito de bandas com essa temática, a não ser coisas mais velhas que ainda rola direto no play como Vômito, Lymphatic Phlegm, Gore, Autopsy (apenas o Severed Survival) entre muitas outras. Perdi o gosto pela temática devido a um acontecimento muito trágico na minha vida que me levou a repensar sobre essas questões, é algo bem pessoal. Logicamente nunca vou discriminar ou criticar os amantes do Gore/Splatter.


ABDUÇÃO EXTREMA – Genital Tumor... Acho que já vi ou ouvi algo nesse sentido! Ok, antigamente você sabe, era muito difícil de conseguir discos e gravações, hoje em dia você pode conseguir qualquer coisa facilmente, de demos a CD’s, basta sentar na frente do computador e com poucos clicks você consegue baixar a discografia de uma banda, até mesmo raridades como demo tapes, ensaios e etc! O que você acha disso? O que você acha dessa modernidade toda e da cena de internet?

WESCLEY DINALI – Luís, como tudo nessa vida, tem seu lado positivo e negativo. Penso que a questão é saber filtrar. Não sou um tipo de pessoa radical, digamos, tem muitas e muitas coisas legais na internet como a facilidade de comunicação, por exemplo. É como estamos fazendo agora, com esta entrevista em tempo real. Há alguns anos atrás isso seria impossível, a não ser através de contato físico ehehehe. No que se refere à facilidade de termos acesso aos materiais de bandas, eu particularmente ainda gosto daquele contato físico com o CD, vinil, tape, zines, livros é uma questão de afeto. Olhar a arte, encarte, letras e mesmo ver a deterioração dos materiais gravados em mídias infiéis como a tape ahahhahah. Também gosto de fazer download de algumas coisas e colocar no meu celular e andar por aí com um fone ouvindo o que gosto. Acho complicado também só ficar fazendo download de um caminhão de coisas, ficar dando um de grande conhecedor de bandas, de movimentos e não apoiar o corre dos coletivos, das bandas, dos selos, das gigs. Enfim, quem realmente apoia o real Underground acho que supera todas essas questões e saber diferenciar as coisas. Eu mesmo acho as plataformas um dispositivo bastante interessante para divulgação de bandas e ideias hoje em dia.


ABDUÇÃO EXTREMA – Exatamente como penso, tem que saber filtrar... O próprio Underground tem uma peneira natural, que com o passar do tempo, mostra quem é quem... Muito bem meu caro Wescley, considerando a utilização da internet para a divulgação de bandas, shows, resenhas, reportagens e etc., qual sua opinião sobre os fanzines hoje em dia?

WESCLEY DINALI – Meu, como ressaltei no início da nossa conversa, os zines sempre foram e serão um dos veículos alternativos mais importantes para a continuidade e fortalecimento do Underground. A meu ver eles sempre funcionaram e ainda funcionam como um mecanismo pedagógico fundamental para formação das pessoas, uma vez que eles socializam ideias, informações tanto para interior do Underground como fora dele. E digo, quem não apoia os zines, não tem meu apoio eheheheh. Basta olharmos para a história do punk e vermos como os zines foram essenciais para o desenvolvimento do movimento.


ABDUÇÃO EXTREMA – Não somente Punk, mas o Metal também... Voltando lá no comecinho do seu envolvimento com o Underground aos dias de hoje, o que você considera que tenha mudado em sua vida? Acredita que de alguma forma, a cena possa causar mudanças na vida de uma pessoa? Na forma de encarar a sociedade, por exemplo:

WESCLEY DINALI – Com certeza! Também no Metal e em outros movimentos Undergrounds pelo mundo afora e não só ligado à música, claro. Sobre sua pergunta, eu não só creio como estou desenvolvendo uma tese sobre isso. Gostaria de focar mais especificamente no punk em geral, pois é sobre ele que tenho me debruçando. Bem, a meu ver, penso que o Underground propõe explosões de forças como ativismo político social que nos leva a repensar questões relevantes no que se refere às construções singulares de subjetividades no interior da sociedade contemporânea. Parece-me que existe, no seu interior, uma forma de existência, uma forma de vida radical anárquica que busca uma recusa às formas de subjetivação normatizadoras impostas pela sociedade contemporânea, seja ela social, cultural, econômica e etc. Vejo o Underground como uma forma muito específica de vida, como arte de viver, como uma estética da existência.


ABDUÇÃO EXTREMA – Que bom que está desenvolvendo uma tese sobre isso! Gostaria de ler quando publicá-la. Atualmente você está com um projeto Harsh Noise juntamente com seu filho, o A.V.N. ou Anarco Vomit Noise, inclusive filmei a atuação de vocês no São Caos Fest em 2015. Por favor, apresente esse projeto para os que ainda não conhecem, nos fale sobre como vocês desenvolvem a barulheira toda com o A.V.N., iniciais essas que fazendo poucas modificações tornam meus ouvidos dilacerados mais felizes:

WESCLEY DINALI – Agradeço pelo interesse, na certa te mandarei quando terminar. Fico grato pela filmagem cara, é muito bom saber que estamos nos arquivos da Brutal Alien Videos, pois como você sabe, sou um grande apreciador do seu trabalho a um longo tempo. Sobre o A.V.N, no início montamos o projeto com o intuito de fazer um Harsh Noisecore seco, cru, direto e sem frescuras, influenciado principalmente pelo cenário Noisecore mundial, porém, ele foi abrindo outras possibilidades. Isso é Punk correndo nas veias em seu estado bruto ehehhe. O que vou dizer aqui, já destaquei em uma entrevista no zine do amigo Anderson Gordo, no entanto, gostaria de frisar novamente. Nós não temos intenção nenhuma de agradar ou formar públicos e panelinhas no Underground, vender materiais, ficar conhecido no meio, tocar em diversas gigs, nada disso. Fazemos Noise porque simplesmente gostamos, é algo muito especial, pessoal e afetivo. O que me agrada no Harsh Noise são justamente as várias experiências corporais contestatórias que ele pode proporcionar como transe, dores, enxaquecas, desejos, ódio, espasmos, medo, felicidade, negatividade, ludicidade, gozo e por aí vai. Nas nossas performances não tem nada preparado ou combinado, nunca ensaiamos nada cara, é algo muito espontâneo, experimental, minimalista, catatônico. Muitos odeiam hahahah. Buscamos sempre uma autenticidade como experiência corporal espontânea, imediata e libertária. Nossas performances tem essa relação com as explosões de ruídos proporcionadas por várias ferramentas que usamos como pedais, instrumentos convencionais, sucatas etc. O A.V.N não é algo para ser explicado, e sim, experimentado.


ABDUÇÃO EXTREMA – Belíssima definição: não é algo para ser explicado, e sim, experimentado! Cara, além de vocês dois fazendo esses experimentos, existe algo mais em São João Del Rey que você possa mencionar aqui? Algum zine, banda, selo...

WESCLEY DINALI – A agitação aqui sempre foi praticamente nula no que ser refere ao Underground extremo, cara. Atualmente têm acontecido alguns eventos que eu, o Yuri e o companheiro dele de banda, o Kaio, organizamos, quase sempre com pouca participação das pessoas, diga-se de passagem. Eu também movimento o micro selo Depressive Noise Records lançando materiais de bandas barulhentas de Noisecore, Harsh Noise etc. Comprometida com o Underground extremo atualmente posso destacar a banda Exício na qual meu filho é baterista e vocal, os meninos tão fazendo uma barulheira danada, total Deathnoisecore noventão eheheheh. O Yuri também edita um zine, o Alcoholic Devastation.


Yuri e Wescley Dinali - Anarco Vomit Noise

ABDUÇÃO EXTREMA – Sim sim, você me passou um material deles no São Caos, inclusive o zine! Ainda não consegui conferir todos os materiais, mas em breve conseguirei e farei uma resenha para esta edição! Wescley, chegamos ao final! Quero lhe agradecer imensamente pelo seu tempo, disposição e paciência em responder esta entrevista. Se houver algo que gostaria de acrescentar, fique a vontade:

WESCLEY DINALI – Eu que agradeço pelo espaço e oportunidade cedida meu amigo. É um imenso prazer participar do seu zine. Aproveito para parabenizá-lo pelo belo trabalho que você tem feito em prol do verdadeiro Underground há tantos anos, sem pensar em fins lucrativos e estrelismos piegas que vemos muito por aí. Fiquei no aguardo daquela pergunta clássica sobre ufologia, OVNIS etc. hehehehe. Grande abraço e vida longa ao Abdução Extrema e todos os zines comprometidos com o Underground.


Contato: www.facebook.com/wescley.dinali

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