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EDITORIAL

"Aqui estou novamente com mais uma edição do Abdução Extrema zine! Desta vez e ao contrário do que eu havia planejado, por questões financeiras tive de fazê-lo de forma virtual. Peço desculpas pela grande demora aos amigos entrevistados! Nesta edição abordei sobre uma das funções mais importantes, se não a mais importante da nossa sociedade: O PROFESSOR! Na verdade, a violência sofrida por eles. Todos sabemos que esses profissionais, essenciais em nossas vidas, são diariamente insultados, destratados, humilhados e muitas vezes até agredidos fisicamente, não somente por alunos, mas também por seus familiares e pelo Estado. É uma vergonha inadmissível que isso ainda aconteça, tanto quanto outras situações inadmissíveis que vemos diariamente em nossa sociedade, mas o caso aqui e agora, é sobre professores. Eduquemos nossos filhos e netos para que respeitem sempre um professor ou professora, e que eles eduquem seus filhos e netos para que um dia, consigamos viver em um mundo melhor... Além de abordar esse assunto, todos os nossos entrevistados nesta edição também são professores, e claro, no decorrer das entrevistas procurei saber o que eles têm a dizer sobre o que é ser professor. A seguir, Felipe Leprose, um convidado especial que com grande dose de veneno, sarcasmo e espinhos, escreveu um breve texto sobre o assunto em questão".


Editorial: Inner_about
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A PRIMEIRA AGRESSÃO QUE O PROFESSOR SOFRE
AO PISAR EM UMA ESCOLA VEM DO PRÓPRIO ESTADO

O vale-alimentação de um professor da rede estadual de ensino é de oito reais por dia trabalhado. Costumavam chamar o “benefício” de vale-coxinha. A piada perde a graça quando você se lembra que a esmola não dá pra comprar nem uma coxinha e um refrigerante, ou suco.


Eu frequento escolas desde os seis anos de idade. Tenho 31. Depois que terminei o Ensino Médio, fiquei quatro anos fora. Voltei como professor. Depois continuei na educação fazendo trabalho burocrático. Até hoje já passei 21 anos indo à escola de segunda a sexta, somado o tempo como aluno e o tempo como trabalhador.


E pra mim, infelizmente, a violência contra o professor começa no vale-alimentação de oito reais. Preocupa e assusta a violência física sofrida por docentes Brasil afora. Casos recentes pipocaram na imprensa. Temo que a situação se torne um clichê, que se naturalize. Logo dirão aos professores agredidos: “você sabia onde estava se metendo quando escolheu a profissão”. Já falam isso sobre o salário.


Lembro que na última greve dos professores estaduais, o governador Geraldo Alckmin (do partido que está há tanto tempo no poder em São Paulo que quase me faz querer mudar o nome do Estado para Tucanistão) disse que a média salarial dos professores era de R$ 4.000,00. Falou a mentira para jogar a opinião pública contra os grevistas, claro. Esse nível de salário só alcançam os professores em fim de carreira, após passarem por vários processos de evolução funcional. Muito longe, portanto, de ser a “média”.


Professor ganha mal. Recebe vale-alimentação de oito reais (sou repetitivo, e serei sempre que precisar; cada vez que olho para esse valor no extrato do cartão a indignação me consome do mesmo modo, numa eterna repetição). Trabalha em salas superlotadas e sem a estrutura adequada. O esquema giz, lousa e saliva não é nem do século passado. É do século XIX.


A violência também está aí. Não está apenas na agressão física. A sociedade é violenta. O que acontece na escola é um reflexo, numa escala menor, da violência e da desigualdade que imperam fora dos muros da instituição de ensino.


Seria pedir demais que, no mínimo, o empregador do professor o tratasse com o mínimo de dignidade? O MEC diminuiu o tempo mínimo dos cursos de licenciatura. É quase como se o recado do MEC fosse: “não precisa perder muito tempo formando esses caras, só a bucha de canhão da sociedade vai se dispor a entrar nas jaulas que são as escolas para encarar os filhos dos pobres”.       (Felipe Leprose)

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