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Professor Rodrigo Romanin


Nome: Rodrigo Romanin

Nascimento: Junho de 1979

Naturalidade: Piracicaba - SP

Escolaridade: Superior completo

Profissão: Professor de Filosofia

Atividades: Faz tudo no selo Sonoros Records desde 2000


ABDUÇÃO EXTREMA – Meu amigo Rodrigo, primeiramente gostaria de lhe agradecer por esta entrevista, e também, lhe parabenizar pelo seu papel tão importante e fundamental em nossa, e para nossa sociedade! Infelizmente, uma grande parcela desta sociedade não vê desta forma, tanto quanto o próprio Estado não o vê:

RODRIGO ROMANIN – Olá Luís, obrigado pelas palavras e pela iniciativa em abordar um tema tão importante que envolve todos nós: educação e papel de quem educa. Acredito que a educação, o processo de conhecer, é o caminho do ser humano poder crescer em sua completude.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sua formação acadêmica é Filosofia! Há quanto tempo leciona e em qual rede de ensino?

RODRIGO ROMANIN – Sim, sou formado em Filosofia pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e sou especialista em ensino de Filosofia pela Unesp. Meu primeiro contato com docência foi na própria universidade, onde participava de um projeto de extensão com a proposta de ensinar temas da Filosofia para crianças de um bairro periférico da cidade. Isso em 2001 ou 2002. Comecei a trabalhar na rede pública em 2005, dentro do processo de reintrodução de Filosofia no ensino público do Estado de São Paulo. Tenho dois cargos na rede pública, trabalho atualmente em duas escolas de Piracicaba.


ABDUÇÃO EXTREMA – Acho interessante esse processo de reintrodução da Filosofia no ensino público, mas sinceramente não acho que tenha gerado tantos resultados positivos. Tá certo que uma mudança impactante no jovem, adolescente, depende de muitas outras coisas, mas mesmo assim eu gostaria que você nos falasse sobre esse processo:

RODRIGO ROMANIN – Essa reintrodução foi uma luta que durou anos e passou por Piracicaba, com vários encontros de professores de Filosofia na própria UNIMEP. É legal salientar que a Filosofia estava presente no currículo do Estado antes do golpe militar na década de 60. Ela foi retirada pelo Estado Militar instaurado na época que acreditava que o caminho proposto pela Filosofia chocava-se com o ideal de cidadão proposto por eles. Assim a Educação Moral e Cívica e a OSPB cumpriam muito bem com a formação do tipo de cidadão esperado pelo Estado. A Filosofia vem fazendo seu percurso com o adolescente, mas sofre o que todas as disciplinas incluídas na maioria dos sistemas atuais de ensino sofrem: professores descompromissados, desestruturados das escolas em relação ao seu tempo, fragmentação de conhecimento, acesso à informação digital, etc. Mas, como eu já frisei, o processo de conhecer é o caminho do ser humano poder crescer. Assim, a Filosofia com seus temas e reflexões tem papel na formação das pessoas que queremos em nossa sociedade.


ABDUÇÃO EXTREMA – Como já foi dito anteriormente por outros entrevistados, é um trabalho de formiguinha. Quais são as principais dificuldades que você encontra no exercício de sua profissão?

RODRIGO ROMANIN – Sim, é um trabalho de formiguinha que depende de um sistema para funcionar. Na Rede Estadual os problemas são estruturais: falta de valorização profissional, gestores e professores mal preparados, falta de estrutura física, problemas sociais e com drogas. Atualmente junte-se os problemas econômicos que refletem diretamente na família dos alunos e a violência gerada por tudo isso.


ABDUÇÃO EXTREMA – Exato! O tema principal desta edição, você sabe, é sobre a violência sofrida por professores e professoras dentro da escola! Então eu lhe pergunto: já sofreu algum tipo de violência física ou verbal por parte de alunos ou seus familiares?

RODRIGO ROMANIN – Nunca sofri uma agressão física, mas convivo diretamente com a eminência da violência, seja ela física, emocional, psicológica. Aqui em Piracicaba houve um aumento dos casos de violência na rede estadual nos últimos anos e há todo um discurso de afrontamento à esses casos, mas são apenas discursos. No último, caso um aluno de sétimo ano agrediu a vice-diretora de uma escola e a solução dada pelo Estado foi colocá-lo em outra escola, mas como o problema é social e familiar não há estrutura do Estado que dê conta. A legislação é ambígua, ela protege tanto os funcionários públicos quanto os alunos mas limita o alcance da escola. Lembrando que temos o Estatuto da Criança e do Adolescente que a principio deveria garantir os direitos dos jovens, mas suas brechas são usadas para favorecer atitudes erradas dos adolescentes.


ABDUÇÃO EXTREMA – Na atual conjuntura, quem mais necessita dessa “proteção” são os funcionários públicos. E você acabou de fazer uma observação importante, essas brechas favorecem suas atitudes erradas. Sabemos que muitos desses casos de violência e indisciplina atribuem-se a alunos que vivem conflitos dentro de sua própria casa, contra os próprios pais que possuem um histórico de violência, muitas vezes alcoolismo, dificuldade financeira, enfim, uma série de fatores... Diante deste tipo de situação de conflito com alunos, qual a postura que você adota para resolver o problema?

RODRIGO ROMANIN – Olha, eu tento amenizar os problemas dentro da sala de aula. Tento na medida do possível ser organizado e claro com os objetivos a serem compreendidos pelos alunos. Acredito que o professor tem que conhecer minimamente seu aluno, saber o nome, onde mora, a pretensão em relação aos estudos, enfim, busco uma aproximação mostrando que ele não é apenas mais um em sala de aula. Diálogo é a palavra chave para isso, mas não é fácil, demanda tempo para conseguir pequenas conquistas em sala de aula. Por outro lado há casos graves que ultrapassam a alçada do professor e aí o encaminhamento é feito junto aos diretores e mediadores de conflito que existem na escola. É difícil para um professor ter que desistir de um aluno, mas existem casos que praticamente jogo a toalha, que se esgotam as tentativas e apenas evito situações de possam trazer um prejuízo à minha pessoa.


ABDUÇÃO EXTREMA – Além dos ensinamentos específicos de sua formação, você procura passar outros ensinamentos ou mensagens para seus alunos?

RODRIGO ROMANIN – Tento trabalhar a possibilidade da reflexão sobre aquilo que acontece ao nosso redor, muitas vezes vou parar em algum tema da geopolítica atual, como a guerra na Síria ou funcionamento do mercado global. A principal mensagem que passamos ás vezes nem percebemos, como pequenos detalhes de nossa postura... Cumprimento eles com um "bom dia" ou "boa noite", peço licença e desculpas, coisa simples que refletem neles. Dia desses um aluno me chamou atenção pois não respondi um "bom dia". Veja só como esses gestos os marcam.


ABDUÇÃO EXTREMA – Muito bem! Qual a faixa etária dos alunos aos quais você leciona?

RODRIGO ROMANIN – São do ensino médio, então estão entre 15 e 17, 18 anos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Uma faixa etária difícil de trabalhar! Como você avalia a importância de sua função, seu papel como professor?

RODRIGO ROMANIN – É uma faixa difícil pelas descobertas que a adolescência traz, pelas inseguranças, conflitos, indecisões sobre o futuro, etc. O papel do professor mudou muito e a estrutura escolar não acompanhou isso. Veja bem décadas atrás o professor era a única pessoa que tinha acesso às informações e por isso era o centro do conhecimento. Hoje já não é mais. Hoje temos conhecimento na palma da mão a apenas alguns cliques. Então ficar explicando um conteúdo dentro de uma sala tentando buscar a atenção de um adolescente que tem mil e uma alternativas de distração é uma missão quase impossível. Hoje o professor deve ser um facilitador, esse é meu papel, facilitar o acesso à informação e ensinar a transformá-la em conhecimento. É ensinar autonomia ao ser humano, a partir dos diversos discursos em sua volta qual sua postura? Como você interpreta? Qual valor te vai guiar?


ABDUÇÃO EXTREMA – Para você, ser professor é um desafio ou uma realização? Ou as duas coisas?

RODRIGO ROMANIN – No início foi uma realização, gosto de Filosofia e gosto de ensinar. Atualmente é apenas uma profissão para mim. Perdi muito o entusiasmo pela docência, seja pela falta de valorização, falta de perspectivas, dificuldades estruturais e pessoais. É um desafio manter-se na profissão, por enquanto ainda consigo encarar, mas toda configuração política atual aponta para o desaparecimento da profissão. Qualquer um vai ensinar de qualquer maneira, sem metodologia ou preparo.


ABDUÇÃO EXTREMA – Infelizmente essa é a realidade e não sinto qualquer esperança de que isso venha a mudar, pelo menos não tão cedo, e não somente no âmbito educacional, mas de uma forma geral! Qual sua profissão anterior?

RODRIGO ROMANIN – As mudanças apontadas pelo governo atual, reforma no ensino médio retirando muitas disciplinas mas não mexendo nas estruturas não levará a nada, mais demagogia política. Minha primeira formação é de Ajustador Mecânico pelo SENAI, trabalhei durante cinco anos na linha de produção de uma grande empresa. Mas nesses vários acontecimentos de nossa vida acabei buscando formação na área de humanas. Sinceramente não gostaria de retornar ao serviço automático, funcionário padrão fechado dentro de um galpão. Meu horário é mais flexível e posso conversar com gente não com parafusos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Hehehe! Continuando, já se emocionou assistindo o filme “Ao Mestre com Carinho”?

RODRIGO ROMANIN – Nunca assisti completamente esse filme. Lembro pouco também do "Sociedade dos Poetas Mortos". Gosto de outros filmes que abordam a educação como o filme alemão "A Onda" sobre um professor de tendência anarquista que propõe ensinar as sociedades totalitárias aos alunos, tem um francês que se chama "Entre os Muros da Escola" sobre um professor na periferia de Paris, com imigrantes, violência etc. Mais recente também tem o "Half Nelson". Passo para os alunos um documentário brasileiro chamado "Pro Dia Nascer Feliz", uma viagem da escola mais pobre do Brasil no Nordeste até a mais rica em São Paulo. Traz uma reflexão sobre a realidade e o papel da escola em cada classe social. Pra fechar tem um documentário chamado "A Educação Proibida", uma reflexão sobre como abordamos a educação de uma maneira completamente errônea.


ABDUÇÃO EXTREMA – Brincadeiras a parte, eu o assisti várias vezes, o considero um clássico do cinema. Um filme com um final feliz pelo menos. Obrigado pelas suas indicações, esse documentário brasileiro deve ser muito interessante! Ok meu amigo, finalizando este tema, de acordo com toda sua vivência no âmbito escolar, quais seriam suas sugestões para que houvesse de fato, uma reforma educacional coerente? Ou você acha que antes da reforma educacional, deveriam existir muitas outras tantas reformas? Enfim, sinta-se a vontade em comentar sobre isso:

RODRIGO ROMANIN – Essa questão é bem complicada, Se observarmos outros países que conseguiram melhorar a educação, veremos que não há pacote mágico. Cada um fez sua reforma seguindo suas características e caminhos. Mas existem alguns valores que deveríamos aplicar aqui: valorização profissional do professor, desburocratização do uso do dinheiro, envolvimento da comunidade. Engraçado que em todas as eleições se comenta sobre o valor da educação mas não há realmente um engajamento em valorizar o processo educacional. Engajamento em começar a escolher os melhores profissionais para o ensino básico, em dar uma estrutura que seja funcional e atualizada, um currículo que atenda a formação adequada do cidadão que se quer formar. Mas como vivemos em um momento muito conservador nos governantes do país, não acredito em uma reforma que tenha como foco essa melhora à população. Veja a reforma política atual que está sendo vendida como se fosse a única maneira de se acabar com a corrupção, mas ninguém consultou a população. As propagandas da reforma no ensino médio são mentiras que contadas repetidas vezes se tornam verdades. Falam de diálogo mas não perguntaram aos professores o que eles necessitam para desenvolver seu trabalho. Veio de cima pra baixo. Fico pensando nos tipos de cidadão que teremos em nossa sociedade futuramente. Será que serão bons profissionais? Terão bons valores de convivência social? Serão éticos?


ABDUÇÃO EXTREMA – Cara, adorei suas respostas, mais uma grande aula aqui para nossos leitores e leitoras... Agora sim, vamos falar um pouco do Rodrigo e suas atividades no submundo! Gostaria de saber sobre os seus primeiros dias na cena Underground, como e quando você teve o seu primeiro contato? Qual foi a primeira banda que despertou seu interesse? Seu primeiro disco ou fita, enfim, diga-nos sobre o início de sua trajetória!

RODRIGO ROMANIN – Legal que esteja gostando de nosso bate-papo. Cara, meu primeiro contato com Rock mais pesado foi por rádio, acho que em 92/93, eu sintonizava um programa numa rádio chamada União FM, era de São Carlos acho, e fui gravando uns programas em k7. Tocava de tudo: de Oficina G3 até Metal. Acho que aí despertou, ouvindo coisas além daquele Rock nacional que tocava nas rádios daqui de Piracicaba. Não há como negar que a imensa maioria das pessoas que hoje fazem parte do Underground, seja Metal, Punk, Black, até os mais radicais iniciaram sua trajetória no circuito comercial, com aquilo que a grande mídia expunha. Não há como cuspir no prato que você comeu saca?! Depois, em 94 conheci um pessoal Punk daqui de Piracicaba, era uma pequena célula do M.A.P., eles tinham um coletivo com bandas, faziam zines, e eu me envolvi com isso e comecei a trocar cartas e fazer trocas, adquirir material por conta própria. Tinha também, uma loja especializada em Rock no centro, a Sintonia, e lá acabei comprando aquelas tapes gravadas. As primeiras bandas foram Punks, Cólera, Ratos De Porão, Inocentes, as coletâneas, etc. Meu primeiro show foi com o Cólera, tocaram por mais de duas horas e até apontavam para a gente na frente do palco perguntando qual música deles a gente queria. Viver isso, essa aproximação com as pessoas, as ideias do Redson, isso deixou marcas. Depois descobrimos uma loja da cidade que fazia importação de CD's direto do catálogo, foi aí que tentamos pegar materiais diferentes e nisso veio um CD do Disrupt, o Unrest que tinha saído pela Relapse. Cara, tive certeza que aquela brutalidade sonora era o que eu queria. Traduzi letra por letra, fui buscando informações das bandas que eles agradeciam no encarte e assim as coisas foram ampliando.


ABDUÇÃO EXTREMA – Ahh com certeza, a primeira música que me despertou para o Rock foi Breaking All the Rules, de Peter Frampton, que passava justamente na televisão nas propagandas de cigarro... Depois das fitas, acredito que como a maioria, você começou a descobrir os zines! Qual foi seu primeiro contato com zines, e o qual sua impressão daquele formato? Chegou a editar algum?

RODRIGO ROMANIN – Conheci a cultura dos fanzines fora do cenário musical, em matérias de jornal que mostravam o pioneirismo de um piracicabano em fazer fanzines. Acredita-se que o primeiro fanzine brasileiro foi feito em Piracicaba por Edson Rontani, mas há outras versões por aí. Devo ainda ter uma cópia desse exemplar reeditado. Esse formato é incrível, a cultura do faça você, a expressão daquilo que você sente, as maneiras de poder construí-lo, enfim é uma ferramenta legal para educação. Inclusive trabalho com esse suporte na escola, mostrando a história, mostrando os diversos tipos até chegar à confecção em grupo com um tema proposto. Editei apenas um informativo em formato newsletter chamado "Grimcorpses", acho que entre 2001/02, tentava preencher uma lacuna de informações sobre bandas, shows, noticias do Underground, etc.


ABDUÇÃO EXTREMA – Antes do Grimcorpses, você já tinha iniciado suas atividades com o seu selo, Sonoros Records, selo esse que ainda está em atividade! Diga-nos quais os formatos que você costuma lançar e quais estilos de bandas que você prefere trabalhar?

RODRIGO ROMANIN – O selo surgiu da necessidade de distribuir os materiais da Hate Corrosion, a banda onde fazia os vocais. No inicio apenas distribuindo a demo tape, depois materiais de bandas amigas, mas tudo em tape. Cheguei a ir pra Santa Efigênia em SP pra comprar tapes para reprodução e distribuição. Depois que sai da banda foquei mais no selo, fiz materiais em CD-R com tiragem limitada, pois não tinha a grana necessária. Sempre abrangi algo além do Hardcore e do punk, lançando Grindcore, Noisecore, chegando aos extremos do Ambient Harsh. Já passei por todos os formatos mais conhecidos, tape, CD-R, mini CD-R, DVD-R, CD's prensados e até vinil. O último foi em lathecut, vinil riscado manualmente. Isso foi variando conforme aquilo que tinha em mãos. Atualmente decidi voltar a fazer materiais com pouca tiragem, essa é a realidade do Underground hoje, o CD está agonizando, o vinil está com preço nas alturas, as tapes desapareceram, só reciclando elas mesmo. Meus próximos lançamentos serão em CD-R impresso, limitado a 50 ou no máximo a 100 cópias. Talvez mais algum lathe cut, mas é caro e a qualidade é mono. Nunca imaginei chegar tão longe com o selo, tenho 58 lançamentos e só não parei por teimosia e pelos muitos amigos que ainda curtem o Underground.


ABDUÇÃO EXTREMA – O que você está preparando para o próximo lançamento?

RODRIGO ROMANIN – Estou trabalhando em dois materiais do inicio dos anos noventa. O primeiro é material com as primeiras demo tapes do Scum Noise, de Santa Barbara D'Oeste - SP, são materiais que ficaram de fora do CD discografia lançado em 2001. É o inicio da banda, com uma pegada bem brutal, ainda não focada apenas no Crust. E nisso você está ajudando bastante com o material necessário, além de dividir o lançamento. Tem também uma discografia do S.C.A.R.R.H.O.U.S., uma banda de São Roque - SP, muito influenciado por Grindnoisecore, que depois de reformulada veio a se tornar a Dischord. É uma banda que não tem o devido valor. Fechando tem um material do projeto de Noisecoregore que participo, o Cyst Eater, gravamos mais de 20 faixas mês passado e vamos fazer uma divulgação deles num CD-R.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sem dúvidas dois lançamentos muito importantes e de grande valor para o Underground! Acho muito válido esses lançamentos que resgatam os primeiros materiais das bandas, ainda da época de tapes! Como você já citou anteriormente foi vocalista da Hate Corrosion, até pensava que a Hate Corrosion tivesse surgido após o seu selo. Como foi essa experiência com a Hate Corrosion e por quanto tempo ela esteve em atividade?

RODRIGO ROMANIN – Esse resgate desses materiais, penso ser importantíssimo. Não se pode perder a história, mais ainda daquilo que nós participamos. Infelizmente muita coisa se perdeu e vai se perder, às vezes encontro resistência e desinteresse das pessoas em relação ao que ela mesma produziu. O que mais me preocupa é a historia oral disso tudo, as pessoas passam e se não registrarmos cairão no esquecimento. Sim, fui vocalista da Hate Corrosion, formamos a banda no primeiro semestre de 1999. Antes disso só participei de projetos que não foram pra frente. Fiquei até 2005, ainda assim a banda continuou até 2007, se não me engano. Foi um período legal, fiz muitas amizades, vivenciei vários shows, produzimos muitos eventos aqui em Piracicaba no 'faça você mesmo'. O sonho era fazer um vinil, mas nunca foi concretizado. Depois disso, embarquei num projeto de Ambient/Harsh chamado SOBOTA, fiz vários materiais também.


ABDUÇÃO EXTREMA – Me lembro de ter filmado uma gig da Hate Corrosion junto com Hellnation. Foi uma gig um tanto quanto tumultuada, devido algumas tretas. Ok, antigamente você sabe, era muito difícil de conseguir discos e gravações, hoje em dia você pode conseguir qualquer coisa facilmente, de demos a CD’s, basta sentar na frente do computador e com poucos clicks você consegue baixar a discografia de uma banda, até mesmo raridades como demo tapes, ensaios e etc! O que você acha disso? O que você acha dessa modernidade toda e da cena de internet?

RODRIGO ROMANIN – Sim, a apresentação do Hellnation durou 6 ou 7 minutos e parou por causa de uma briga que começou dentro do bar e foi terminar na rua. A banda parou, levamos eles para trás do palco, o bar foi esvaziado e acabou por ali mesmo. O pessoal do Hellnation depois do tumulto dizia "it was a real powerviolence". Outro som marcante foi do CAD da Eslováquia, muita gente, ambiente legal, show correu bem. O mais impressionante foi saber que o vocalista que é cristão ortodoxo, professor de universidade e poliglota. E eu ouvindo Blood no carro com eles. (risos!) A internet trouxe essa possibilidade de acesso à informação em uma velocidade muito rápida. Ainda tento entender as consequências disso tudo. Uma coisa é certa, não há volta disso tudo que está acontecendo. Já tive site, conta no Myspace, perfil de Orkut, conta no Youtube, etc. A coisas vão atropelando a gente. Curto muito a internet, e duvido que encontraremos gente que não goste: conseguimos encontrar muita informação, reativar amizades antigas via rede social, finalmente ver aquele vídeo de uma banda que nunca vi ao vivo (obrigado pelo seu canal no Youtube Mosh). Por outro lado esse livre acesso gera um volume muito grande informações, que pode ser acessada por qualquer um. Mas só fará sentido ser for transformada em CONHECIMENTO. Não dá pra ficar reclamando que a internet matou o Underground, que ninguém compra CD, que o moleque que está ouvindo Grindcore ou Noisecore não sabe da história por trás disso tudo, que minha produção foi parar em um lugar que não quero. A informação está disponível e não há como mudar. Uma vez feito e divulgado perde-se o controle de tudo isso. E isso já acontecia antes da internet.


ABDUÇÃO EXTREMA – Muito bem meu caro Rodrigo, considerando a utilização da internet para a divulgação de bandas, shows, resenhas, reportagens e etc., qual sua opinião sobre os fanzines hoje em dia?

RODRIGO ROMANIN – O fanzine é mais um suporte para divulgação, não acredito que vá acabar, pois é uma cultura de nicho, ou seja, existem pessoas que curtem o formato e as informações. Veja que existem lojas especializadas em fanzines e hq's, o Douglas Utscher (ex-Parental Advisory/Life Is A Lie) fez até um anuário de fanzineiros. Então, mesmo com a internet e a cultura digital, há espaço para a existência de fanzines. Mesmo assim é importante manter essa cultura, fomentar o público antigo e formar novos leitores. Por isso fico feliz com o seu retorno aos fanzines. Sabemos o tempo que nos toma para elaborá-lo, as dificuldades para entrevistas, resenhas, impressão e tal. Mas ter um fanzine finalizado em mão é muito gratificante, não?


ABDUÇÃO EXTREMA – Realmente é muito gratificante, mas eu acho que se existir um espaço para os fanzines, é um espaço muito reduzido! Percebo isso porque são poucos os que mandam seus materiais hoje em dia, na edição passada, somente pessoas mais das antigas adquiriram o zine, enfim, foi como você falou, existem pessoas que curtem o formato e as informações, e eu sou uma dessas pessoas. Voltando lá no comecinho do seu envolvimento com o Underground aos dias de hoje, o que você considera que tenha mudado em sua vida? Acredita que de alguma forma, a cena possa causar mudanças na vida de uma pessoa? Na forma de encarar a sociedade, por exemplo:

RODRIGO ROMANIN – Acredito que o maior valor que encontrei nesse meio foi a cultura do "faça você mesmo". Poder fazer com as próprias forças aquilo que se quer sem ter que ficar esperando que outras pessoas façam por você. E aí as vivências vão te dando experiências de vida que não se jogam fora, vão deixando marcas em nossas atitudes e posturas. A chamada 'cena' é um microcosmo de nossa sociedade, quer queiramos ou não. Não algo isolado. Há valores positivos, mas também há valores e atitudes negativas que estão presente em qualquer lugar da sociedade. Não sei se a vivência apenas dentro dela transformaria uma pessoa.


ABDUÇÃO EXTREMA – Rodrigo, chegamos ao final! Quero lhe agradecer imensamente pelo seu tempo, disposição e paciência em responder esta entrevista. Se houver algo que gostaria de acrescentar, fique a vontade:

RODRIGO ROMANIN – Muito obrigado pelo espaço e pelo convite Luis. Espero que os temas abordados, que foram bem escolhidos por sinal, sejam importantes para quem lê também. Que o fanzine tenha mais um período


Contatos: sonoros.recs@yahoo.com.br - www.facebook.com/sonoros.recs


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