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Professor Robson Alvão


Nome: Robson Alvão dos Santos

Nascimento: 23/09/1979

Naturalidade: São Caetano do Sul - SP

Escolaridade: Superior completo

Profissão: Professor de História da rede estadual de ensino

Atividades: “Toco na Subversão e tenho dois livros publicados”.


ABDUÇÃO EXTREMA – Meu amigo Robson, primeiramente gostaria de lhe agradecer por esta entrevista, e também, lhe parabenizar pelo seu papel tão importante e fundamental em nossa, e para nossa sociedade! Infelizmente, uma grande parcela desta sociedade não vê desta forma, tanto quanto o próprio Estado não o vê:

ROBSON ALVÃO – Sim Luís, a grande questão é que essa falta de visibilidade tem a ver totalmente com a questão institucional e social, pois no atual sistema político em que vivemos, a educação funciona como mercadoria e também como controle de classe social, onde a educação dos trabalhadores tem que ser precarizada, para acúmulo de mão de obra barata, e para as elites fica o papel do conhecimento, e para as classes médias, decoreba para ocupar as faculdades públicas.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sua formação acadêmica é História, há quanto tempo leciona?

ROBSON ALVÃO – Em História eu leciono faz 8 anos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Quais são as principais dificuldades que você encontra no exercício de sua profissão?

ROBSON ALVÃO – Todas possíveis! Escola com falta de material e com estrutura deficiente, salas de aulas superlotadas, violência cotidiana de vários tipos que se reproduzem dentro do ambiente escolar, e assédio moral por parte do Estado e outras instâncias.


ABDUÇÃO EXTREMA – Violência cotidiana dentro do ambiente escolar... O tema principal nesta edição é justamente sobre a violência e indisciplina contra professores e professoras! Você já sofreu algum tipo de agressão física ou verbal?

ROBSON ALVÃO – Física nunca sofri, verbal já de uma criança de onze anos do sexto ano do ensino fundamental, mas logo descobri que essa criança era vítima de violência em seu lar. O que ela fez foi só reproduzir o seu ambiente doméstico, mais óbvio que história é que não falta das que presenciei entre os próprios alunos e com os demais companheiros de profissão.


ABDUÇÃO EXTREMA – Justamente isso, muitos desses casos de violência e indisciplina atribuem-se a alunos que vivem conflitos dentro de sua própria casa, contra os próprios pais que possuem um histórico de violência, muitas vezes alcoolismo, dificuldade financeira, enfim, uma série de fatores... Diante deste tipo de situação de conflito com alunos, ou até mesmo como você citou, contra demais companheiros de profissão, qual a postura que você adota para resolver o problema?

ROBSON ALVÃO – Primeiro jogo de cintura, uma capacidade que se adquire em poucos anos dentro de sala de aula, depois, vejo meus alunos como seres humanos, converso, me aproximo e me esforço para entender o máximo possível, pois muito ali tem uma vida difícil. Mesmo com tudo de ruim que essa sociedade pode gerar, de tudo que você citou acima, até mesmo vítima de violência sexual, o que muitas pessoas que estão fora da escola não conseguem ver, e às vezes, até quem está dentro do ambiente escolar. Os alunos não deixam a sua carga social fora da escola, ela vem junto, toda frustração e violência que ele sofre o acompanham.


ABDUÇÃO EXTREMA – Realmente essa carga os acompanha para qualquer lugar que vão! Além dos ensinamentos específicos de sua formação, você procura passar outros ensinamentos ou mensagens para seus alunos?

ROBSON ALVÃO – Essa carga é terrível mesmo, pois também carrego minhas frustrações, estamos na mesma sociedade, situações que me deixam muito mal desde alunos em situações de abandono que pede para te chamar de pai, até uns que tem uma vida, digamos, até que boa te tirar do sério, e você tem sempre que lembrar que o adulto da sala é você e tem que remediar tudo, os seus conflitos internos e os deles também. Sobre o conhecimento específico fica cada vez mais difícil passar e os outros sempre você passa, seja em sala de aula ou em conversas individuais e sempre com o objetivo de retratar para a molecada a realidade social ao qual eles estão inseridos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Muito bem! Qual a faixa etária dos alunos aos quais você leciona?

ROBSON ALVÃO – Dos 11 anos do sexto ano do ensino fundamental aos 17 anos da terceira série do ensino médio.


ABDUÇÃO EXTREMA – Ou seja, uma faixa etária bem dividida, mas um pouco complicada de se trabalhar! Talvez nem tanto até uns 14 anos, mas depois disso acho que começa a complicar. Como você avalia a importância de sua função, seu papel como professor?

ROBSON ALVÃO – Sim dividida, e nessa fase de 14 anos complica mesmo, pois vem uma série de mudanças hormonais e mudanças de comportamento, às vezes extremas. Sobre o meu papel profissional é de extrema importância, pois sem educação não existe nada, só barbárie, e pode até parecer clichê mais toda sociedade antiga ou moderna que começa a decair os sinais mais claros é visto dentro do sistema educacional que não consegue cumprir o seu papel devido às contradições do sistema, principalmente quando tal sociedade a usa para outros fins sem ser o avanço e progresso mental social.


ABDUÇÃO EXTREMA – Acredito que se ao menos muitos dos pais tivessem estrutura para educar seus filhos dentro de casa, talvez as coisas nas escolas fossem bem melhores... Para você, ser professor é um desafio ou uma realização? Ou as duas coisas?

ROBSON ALVÃO – Então a questão é que os pais dos alunos também foram vítimas de uma educação sucateada, muitos pais de alunos são analfabetos funcionais, e político no Brasil, se levantou um mito de que a educação no passado era de boa qualidade e que os salários e condições dos profissionais eram boas, basta ver os reflexos disso nos dias atuais, tudo sempre foi muito ruim, a maioria da população não tinha acesso devido à pobreza extrema! Educação no Brasil sempre foi elitista, confundem muito um passado em que os profissionais vinham da classe media e alta, pois eram os únicos em condições de terem ensino superior e já tinham uma condição econômica superior a da classe trabalhadora. Ser professor é tudo: desafio, realização, luta, frustração e por ai em diante. Realmente é ir contra todo um sistema construído para dar errado para a população e dar resultados políticos positivos para as classes dominantes.


ABDUÇÃO EXTREMA – Qual sua profissão anterior?

ROBSON ALVÃO – Fiz de tudo um pouco, mas minha última profissão era de moto taxista na cidade de Jales, Interior de São Paulo.


ABDUÇÃO EXTREMA – Já se emocionou assistindo o filme “Ao Mestre com Carinho”? Pode falar a verdade... Hehehe!

ROBSON ALVÃO – Hahahahaha! Falando a verdade mesmo, nunca assisti a esse filme inteiro, lembro que passava na Sessão da Tarde. Fiquei mais emocionado quando assisti Os Goonies hehehehe!


ABDUÇÃO EXTREMA – Os Goonies realmente é um filme muito legal! Ok meu amigo, finalizando este tema, de acordo com toda sua vivência no âmbito escolar, quais seriam suas sugestões para que houvesse de fato, uma reforma educacional coerente? Ou você acha que antes da reforma educacional, deveriam existir muitas outras reformas? Enfim, sinta-se a vontade em comentar sobre isso:

ROBSON ALVÃO – Acredito que não precisamos de uma reforma ou reformas somente, mas sim, mudar toda estrutura, precisamos de uma revolução social mesmo, os trabalhadores tomando os meios de produção, destruindo a pirâmide social sem burguesia e sem classes sociais, o capital nacional e internacional sempre deixou bem claro qual é o nosso papel na conjuntura política mundial, essa ideia que alguns tem referente à educação, de comparar alguns países europeus e asiáticos, com o Brasil e dizer ali era assim e agora é assado, é um engano, pois basta estudar a guerra fria um pouquinho, se interessar, e perceber a diferença do Plano Marshall com as ditaduras financiadas em toda América latina e se aprofundar mais um pouco e estudar mais afundo, essa relação do imperialismo com as burguesias nacionais de governos dos ditos países subdesenvolvidos, creio que terá uma melhor compreensão desse processo de subserviência, ao qual nos impuseram desde mil e quinhentos até os dias atuais, e se achas que revolução é utopia, tome cuidado, pois, acreditar em capitalismo ético, humanizado com conciliação de classes pode ser muito perigoso, você pode sofrer um golpe, idem uns aninhos de governos passados.


ABDUÇÃO EXTREMA – Revolução já! Obrigado pelas suas respostas, estar fazendo essas entrevistas tem sido um grande aprendizado. Agora sim, vamos falar um pouco do Robson e suas atividades no submundo! Gostaria de saber sobre os seus primeiros dias na cena Underground, como e quando você teve o seu primeiro contato? Qual foi a primeira banda que despertou seu interesse? Seu primeiro disco ou fita, enfim, diga-nos sobre o início de sua trajetória!

ROBSON ALVÃO – Nossa, foi fundo! Ativou a memória agora rsrsrs! Então foi no início dos anos noventa, eu tinha 13 anos e ouvia Rock nacional: Legião Urbana, Camisa de Vênus, algo comum naquele período ainda, pois morava na COHAB Sapopemba, zona Leste de São Paulo, e tinha o habto de colar na banca dos caras mais velhos e era o que se ouvia. Eis que um dia vi um dos vídeos do Sex Pistols: No Feelings, Anarcy in the uk, God Save the Queen, não me lembro no momento qual vi primeiro, ai já era, cedi pro apelo visual o som e pirei. Estudava em uma escola estadual chamada Paulo Duarte, estudava a noite no ensino fundamental, pois naquele tempo já começava a minha vida de proleta, e conhecia um rapaz um pouco mais velho que eu que já ouvia Metal e andava com o visual do Morbid Angel, comecei a falar empolgadamente sobre o Sex Pistols pro cara, ele ficou meio puto rsrsrsrs, e me falou que ia me apresentar para uns Punks de verdade, me chamou para colar na praça do jardim Madalena, perto de onde morava (não confundir com o bairro boêmio de Sampa), cheguei lá ele me apresentou pros caras, inclusive os caras eram muito sérios na época, eu todo empolgado querendo andar de moicano e os caras não deixaram rsrsrsrsrs, pois tinha que conhecer primeiro, ai entrei em contato com o Underground sujo mesmo: Anti Cimex, Discharge, Disorder e por ai vai. Lembro até hoje quando ouvi pela primeira vez o Sub e o Grito Suburbano, e também foi a primeira vez que entrei em contato com zines e com a esquerda, anarquismo, marxismo, que nesse período a reprodução de texto em zine era muito grande, foi a primeira vez também que participei do meu primeiro 1º de Maio, com concentração no teatro Municipal de São Paulo com uma participação muito grande de Punks, e tretas com os nazi que na época era comum, e depois de uns anos, mudei para Jales.


ABDUÇÃO EXTREMA – Anti-Cimex, Discharge e Disorder!!! Começou muito bem... Você se lembra do primeiro show em que foi? Quais as bandas que tocaram e quando foi?

ROBSON ALVÃO – O primeiro som que me lembro foi um som com bandas que nem deve existir mais, eu nem me lembro os nomes, a única que me lembro é do DZK em Santo André, atrás do Carrefour. Devia ser no bairro dos caras e também não lembro o nome do bairro!


ABDUÇÃO EXTREMA – Além das fitas e zines, a Subversão foi sua primeira atividade na cena, ou você chegou a editar algum zine?

ROBSON ALVÃO – Como banda sim, mas antes da Subversão eu editava um zine com os camaradas de Sampa chamado Inimigos da Ordem, que era basicamente reprodução de textos clássicos do anarquismo e alguns poemas autorais, tenho um original de 1996 até hoje. Logo depois paramos de editar.


ABDUÇÃO EXTREMA – A Subversão surgiu exatamente em que ano? A formação continua a mesma ou houve alterações?

ROBSON ALVÃO – A Subversão surgiu em 1997 na cidade de Jales, interior de São Paulo! A primeira formação e início da banda, começou com o Eduardo que atualmente é baterista do Retaliador e com o Edvaldo guitarrista e vocal, que hoje é conhecido como Gameth e se aposentou recentemente no MMA nacional. Pra quem curte artes marciais, só da uma conferida nas lutas do cara. Aconteceu que conheci os caras quando me mudei de Sampa para Jales, meu pai se aposentou, ele era metalúrgico e minha família foi morar lá. Eu muito puto com a mudança na época, sai um dia para tomar uma e trombei os caras na praça da cidade, um com o visual do Patareni, o outro de Cripple Bastards e eu de Extreme Noise Terror, ai já trocamos ideias na hora e depois os caras me chamaram para tocar e eu nem sabia tocar rsrsrsrs, alias não sei tocar até hoje rsrrsrsrs, e começamos, foi muito produtivo. A cena do interior na época era forte, tinha os manos de Birigui, Stupid Patriotism, que era Menstruation e voltou a ser atualmente, Restos, Denúncia. Em Mirassol tinha a Desnutrição e até hoje continua ativa, Academic Worms, em Rio preto a Bomba entre outras bandas.Ocorriam sons fora a amizade, o que era muito fudido, saudades de todos principalmente do finado Urso. A formação da Subversão não continuou a mesma, passaram alguns guitarristas e atualmente Subversão é Eduardo na bateria, eu no baixo e vocal e a Érica na guitarra, formação essa que ficou mais tempo e é a formação mais sólida.


ABDUÇÃO EXTREMA – Realmente a cena no interior sempre foi muito responsa, e dessas bandas que você citou, somente Bomba não conheci, as demais já saíram em meu zine ou já filmei suas gigs! Eu particularmente não conheço muito sobre a Subversão! Em se tratando de gravações, a banda lançou somente demo tapes ou chegou a lançar algum disco? Saiu em alguma compilação?

ROBSON ALVÃO – Lançamos só demos mesmo, a primeira ‘Inconformismo’ a segunda ‘Quando a Engrenagem Parar’, participamos também da coletânia Grito Subversivo Vol. I e uma coletânea em prol a libertação de Mumia Abu Jamal. Pelo o que eu me lembre é isso ai! Ahh, e uma compilação que o mano Jacaré da Academics Worms fez gentilmente em CD com as duas demos e algumas gravações ao vivo prensagem limitada que creio eu acabou, e realmente a cena do interior é responsa mesmo.


ABDUÇÃO EXTREMA – Algum novo trabalho sendo produzido?

ROBSON ALVÃO – Tem sons novos, e vamos ver se gravamos, mas não tem data ainda, tem que ver o tempo de todos para organizar.


ABDUÇÃO EXTREMA – Muito bem! Tive a oportunidade de filmar a Subversão em duas grandes ocasiões, a primeira em 2013 no Noise In Your Head Festival II e em 2016 no São Caos Festival III. Como estão as atividades nesse sentido? Subversão é uma banda que está sempre levando suas mensagens nas gigs ou tocar ao vivo é um lance esporádico pra vocês?

ROBSON ALVÃO – Tocamos a um tempo de forma esporádica e geralmente em gigs de camaradas, tanto pela distância de moradia dos integrantes que não é perto, pois há um tempo não moramos mais em Jales. A questão de trampo também, nós três somos professores rsrsrsrs, e ensaiamos também de forma esporádica, as decisões são coletivas e não ficamos presos a nenhuma pressão externa de cena ou algo assim! As mensagens, quando tocamos pelas letras ou quando nos pronunciamos sempre são passadas com certeza.


ABDUÇÃO EXTREMA – Falando em levar mensagens, sendo a Subversão uma banda Punk, qual sua maior preocupação em relação às letras? Quais os temas abordados em suas letras?

ROBSON ALVÃO – Nossas letras são de cunho social sempre, lógico que as novas mudaram um pouco de perspectiva, mas digamos que sempre abordando a exploração e a dor de nossa existência, tivemos uma influência muito grande do meio social ao qual vivemos e que está explícito nas composições. Morávamos em uma cidade de 60 mil habitantes no interior de São Paulo, na década de 90, totalmente reacionária, daquele jeito, começar a ensaiar e parar na delegacia, sair à noite e tomar geral, olha que nem estou falando dos anos 80. Aconteceu que algumas pessoas que não se enquadravam socialmente na época e muitos não se enquadram até hoje, começou frequentar os ensaios. Nossas composições vêm de encontro com o nosso cotidiano e vivências com a realidade, parece redundante? Acredito que a influência no nosso caso não era só musical, e sim em nível de vivência com quem estava próximo e também distante... Mais põe muito próximo rsrsrs, em sofrimento!


ABDUÇÃO EXTREMA – Cara, quase ia me esquecendo! Você disse que tem dois livros publicados não é? Por favor, sinta-se a vontade em nos falar sobre esses livros, sobre seu conteúdo, sobre sua tiragem, edição em que cada um está, enfim, manda ver ai:

ROBSON ALVÃO – Sim, tenho! O primeiro é “Dois Centavos, Dois Passos e Nada", e o segundo, "Muros com Cacos de Vidro". Foram publicados pela editora Multifoco do Rio de Janeiro e o conteúdo de ambos é sobre a vivência desse cotidiano podre com uma visão mais interior, e nada convencional, do mais é só lendo rsrsrsrs. Deixando claro que não me tornei nenhum Paulo Coelho ou algo do tipo, não vende nada, resolvi mais pela praticidade e falta de tempo mesmo para montar algo, pois é só mandar os escritos para a editora e eles o tornam material.


ABDUÇÃO EXTREMA – Muito bom cara, parabéns por essa realização. Voltando lá no comecinho do seu envolvimento com o Underground aos dias de hoje, o que você considera que tenha mudado em sua vida? Acredita que de alguma forma, a cena possa causar mudanças na vida de uma pessoa? Na forma de encarar a sociedade, por exemplo:

ROBSON ALVÃO – Com certeza a minha vida mudou totalmente, acredito que seria outro com uma carga de uma sociedade genocida sem questionamentos, a cena me permitiu entrar em contato com, digamos, formas de resistência contra cultural. A cena atua na contradição do sistema, joga o indivíduo para crítica e autocrítica a partir do momento que ele começa a pensar no caráter sério que tudo que é produzido, e foi pela cena. Na construção de um pensamento de esquerda ou fora do senso comum o meu contato foi pela cena, zines e traduzindo letras de música e claro, pelo contato pessoal com pessoas da cena.Sei que essa discussão é bastante ampla,mas vou falar através da minha ótica... Acredito mesmo que o capitalismo com sua padronização não tenha tido muito sucesso,vivemos em tribos sim e não estou querendo dizer em termos vulgar, vem destes nossos antepassados e é realmente um ato de resistência contra o que está estabelecido. Assim como os povos antigos da América e de outras partes, que com a chegada dos colonizadores os padronizaram como índios, e não estou dizendo só em relação ao Punk, mas dentro das sociedades modernas digamos, assim, o Punk entre outras, tem a mesma capacidade de criação de cultura e visão de mundo, assim como os Chavantes, Maias, Tupinambás, ou seja, a nossa divisão é tão tribal como dos povos da África, não com uma divisão consanguínea, é claro, mas de visão cultural. Tem muitas contradições, é claro, a influência do sistema nas nossas vidas, a assimilação! Já vi documentários de pessoas ligadas à cena dizer que é coisa de adolescentes ou coisas do tipo, mas essas pessoas vivem e atuam de certa forma na cena até hoje e tiveram suas vidas totalmente mudadas. Creio que não só o Punk, mas outros movimentos também mudam a vida de muita gente até os dias de hoje. Lógico que depende da visão pessoal do indivíduo sobre si mesmo, sua atuação na realidade e seu estado psicológico, mas muda sim para várias direções da autoconstrutiva, como também para autodestrutiva, e muitas vezes, as duas bailando em um caos único levando para explosões de existência visceral.


ABDUÇÃO EXTREMA – Considerando a utilização da internet para a divulgação de bandas, shows, resenhas, reportagens e etc., qual sua opinião sobre os fanzines hoje em dia?

ROBSON ALVÃO – O formato de produção midiática mudou e as relações também, o sistema de produção quase que por completo mudou, sendo assim, o nosso olhar sobre nós mesmos e sobre o mundo mudou, os zine, a sonoridade a visão que se tem deles se transformou também. Acredito que as pessoas da cena têm que ter consciência disso, sempre ver com outro olhar e não deixar a cena morrer, e não viver só mergulhados em nostalgias passadas se lamentando do fato das relações não serem tão “reais” como do passado, agir sim dentro do novo, tomar pra sí os novos meios e atuar. Se um garoto está com visual e com um play da banda e não trocar ideia com você, chegue até ele de outra maneira. Não é só uma crítica à cena, mas também uma autocrítica, pois carrego também alguns vícios do passado em relação à visão de cena, e fico revendo e vejo que é foda. E se a ideia é mais completa de relação e revolução de comportamento, tenho o dever comigo mesmo de rever o meu olhar e minha postura, percebam que aquela banda foda que tanto gostamos de outro continente, de repente, os integrantes estão ouvindo Mutantes, Chico Buarque, entre outras coisas que o pessoal da cena não costuma ouvir, e algumas pessoas da cena ainda olha torto ou até intima o menino de 15 anos que aparece nas gigs com visual do Ramones ou do Brujeria, então pensem bem. Acredito na cena coletiva e não como um clube fechado, então muita coisa tem que ser revista senão a cena morre, e que os zines continuem de todos os formatos possíveis, acredito que só mudou a forma que eles chegavam (cartas) geralmente no passado, se é digital que seja, se é de mão em mão, que seja, só não deve acabar. Creio que o formato do zine avançou de forma significativa, pois tínhamos, digamos, que o monopólio dos mesmos rsrsrsrsrsrs! Hoje existem diversos assuntos sendo tratados e fora da cena, muito bom.


ABDUÇÃO EXTREMA – Robson, chegamos ao final! Quero lhe agradecer imensamente pelo seu tempo, disposição e paciência em responder esta entrevista. Se houver algo que gostaria de acrescentar, fique a vontade:

ROBSON ALVÃO – Eu só tenho a agradecer a você Luís pelo espaço cedido para minha livre expressão, pela atenção, pela paciência pelos registros históricos que você vem fazendo da cena e pelo seu empenho nessa tarefa que não é nada fácil, gostaria de dizer também que quem discordar de algumas palavras ditas acima, me procure que podemos discutir, mas porfavor, com argumentos plausíveis e de forma amigável e respeitosa, seja por qualquer meio, por redes sociais ou pessoalmente, então sejamos sempre sensatos. Gostaria de deixar as palavras escritas pelo poeta Húngaro Miklós Radnóti que lutou na Guerra Civil Espanhola e escreveu nas paredes de um campo de concentração perto da Sérvia ao qual ficou em cárcere sob o julgo nazista: “Este corpo febril, desmembrado mas ainda vivo, espera boas notícias, doces palavras, e uma vida livre e humana”.


Contato: www.facebook.com/robson.alvao

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