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Professor Clodoaldo Gradice


Nome: Clodoaldo Gradice

Nascimento: 19/06/1971

Naturalidade: Brasileira

Escolaridade: Ensino Superior

Profissão: Professor

Atividades: Músico


ABDUÇÃO EXTREMA – Meu caro Mendigo, primeiramente gostaria de lhe agradecer por esta entrevista, e também, lhe parabenizar pelo seu papel tão importante e fundamental em nossa e para nossa sociedade! Infelizmente, uma grande parcela desta sociedade não vê desta forma, tanto quanto o próprio Estado não o vê:

CLODOALDO GRADICE – Eu que agradeço pelo espaço e desde já, estou aqui a sua disposição!


ABDUÇÃO EXTREMA – Obrigado! Qual sua formação acadêmica, há quanto tempo leciona e em qual rede escolar?

CLODOALDO GRADICE – Sou Historiador, pós-graduado em História da Arte e leciono há dez anos na rede publica do Estado de São Paulo.


ABDUÇÃO EXTREMA – Além dos ensinamentos específicos de sua formação, você procura passar outros ensinamentos e mensagens para seus alunos?

CLODOALDO GRADICE – A área de humanas na qual minha disciplina se enquadra me permite a transitar por diversos assuntos, não falo só sobre a História em si, eles são sujeitos históricos também e tento mostrar isso a eles, tem suas vidas, seus desejos, anseios e medos, procuro me aproximar o máximo da vida deles. Dou puxão de orelha, coloco apelido, pego no pé, oriento. Muitos não tem uma família nuclear, e suas histórias em maioria são trágicas ou muito tristes, é um ou outro aluno que tem uma base familiar! A família, assim como a sociedade, mudou, mas a Instituição Escola ainda continua com o padrão de uma escola criada no final do século XIX e não vejo uma mudança em curto prazo.


ABDUÇÃO EXTREMA – Quais as principais dificuldades que você encontra no exercício de sua profissão?

CLODOALDO GRADICE – Todas! Como eu disse, a sociedade mudou mas a escola não. Os pais empurram a educação para os professores que tem somente a prioridade de levar o conhecimento. Educação é uma coisa que tem que vir com o indivíduo, principalmente para que ele se socialize e enquadre em um ambiente fora da zona de conforto. Acabamos fazendo os dois papéis por tabela, o conhecimento e a educação e ainda corremos o risco de apanhar, ter o carro riscado, ser ameaçado, etc. Mas temos que saber até onde devemos ir neste caminho, quanto menos bater de frente, menos estresse! Você tem que saber dosar se não você enlouquece. A escola ainda tem aquela aparência de prisão, grades para todo lado, repressão e vigília o tempo todo, não é atrativa, os investimentos por parte do Governo estão chegando à zero. Os professores não tem material para trabalhar, compram tinta, papéis, pagam xeroxs, arrumam excursões com dinheiro de seus salários. A situação é tão grave que falta até papel higiênico e merenda para o alunato.


ABDUÇÃO EXTREMA – Você sabe que o tema principal nesta edição é a violência contra professores! Fiquei indignado com tantos casos que andei pesquisando sobre o assunto. Você já sofreu algum tipo de agressão física ou verbal algum dia?

CLODOALDO GRADICE – Quando sai de São Paulo capital e me embrenhei no Centro Oeste Paulista, acreditava encontrar escolas mais amenas, calmas e que você pudesse trabalhar com mais afinco e norteado. Encontrei pela frente uma escola barra pesada, cercada por plantações de cana e de laranja, com uma comunidade abandonada pela administração pública, carente em todos os aspectos, se ouvia histórias bizarras de violência e atrocidades. Professores ficavam doentes ou nem entravam na escola para dar aulas, todos os dias haviam brigas nos três horários. A carência era tão grande que muitos só iam pra comer a única refeição do dia que seria dada no intervalo da escola, algo chocante e triste. Marmanjos, crianças e mulheres pulavam o muro da escola, iam até a janela e te xingavam, tacavam pedras e pedaços de pau, era difícil dar aulas ou se comunicar, tanto quem estava dentro como quem estava fora da sala. Em um destes momentos, um cara com tatuagens e camiseta de algum time europeu se dependurou na pequena grade e começou a xingar as meninas da sala, eu educadamente pedi para que o cidadão descesse de onde estava e não atrapalhasse minha aula, ele começou a me xingar com palavras de baixo calão que nem ousaria mencionar em seu artigo, apontou o dedo para mim como se fosse um revolver e cantou a bola: “vou te matar, vai tomar uns pipocos lá fora”, eu não sabia se chorava ou se ria muito, olhei na cara dele e disse: “Ok, saio às 17h50, me espera lá fora e me mata, mas atira pra matar, porque se você não fizer isso eu vou matar você e o restante de sua família...” ele resmungava e falava um monte de coisas que nem estava concentrado para ouvir. O que eu me lembro no final era que tinha uma aluno meu do período da manhã que falou pra ele: “cara, você tem bosta na cabeça? Essa professor ai é o cara mais chave da escola...”. No final, não aconteceu absolutamente nada, nunca aconteceu nada fisicamente ou materialmente com minhas coisas, tem que saber dialogar, mesmo que seja um blefe... rs


ABDUÇÃO EXTREMA – Você tem a sorte de ser - como o garoto disse - um professor “chave”... Infelizmente nem todos os professores ou professoras tem! Infelizmente também, muitos desses casos de violência e indisciplina contra professores, atribuem-se a alunos que vivem conflitos dentro de sua própria casa, contra os próprios pais que possuem um histórico de violência, dificuldade financeira, muitas vezes alcoolismo, enfim, uma série de fatores... Diante desse tipo de situação de conflito, acho que a única postura a se adotar é realmente essa, dialogar! Qual a faixa etária dos alunos aos quais você leciona?

CLODOALDO GRADICE – Exato, por isso que converso com eles, preciso saber de onde eles vêm, como vivem, se tem uma família nuclear ou não. Eles gostam de falar de suas vivências. Gosto do fundamental, crianças entre 10 e 15 anos. Os adolescentes acima desta idade se acham donos do mundo, prepotentes, arrogantes, acham que sabem tudo, se iludem com grifes, garotas bonitas que nunca vão dar bola pra eles, etc... Coisas bem da idade, da qual já passamos por isso, acho mais difícil de cativá-los a dar continuidade aos estudos, eles demoram mais para amadurecer porque não tem maturidade, ela chega muito tarde para esta geração por falta de terem responsabilidades, saca?

ABDUÇÃO EXTREMA – Exatamente, acho que essa faixa etária ainda seja mais fácil de trabalhar, se aproximar... Ser professor, um desafio ou uma realização, ou quem sabe os dois?

CLODOALDO GRADICE – As duas coisas. Nunca subestimo um aluno, sei que todos tem potenciais! Em dez anos lecionando, vi coisas acontecerem num piscar de olhos, de alunos excelentes virarem curva de rio a curva de rio ser o primeiro da turma. Mas é trabalho de formiguinha disse o professor Nelson para mim, quando ainda estava fazendo estágio com ele, nada como a sabedoria oriental! Nunca me esqueço daquela postura japonesa, linha dura, discutindo com os moleques e saindo dando risada quando acabava a aula e sempre dizia: “trabalho de formiguinha”.


ABDUÇÃO EXTREMA - Qual sua profissão anterior?

CLODOALDO GRADICE – Eu trabalhava em uma empresa que fabricava peças automotivas, no setor onde ninguém queria trabalhar e com o menor salário da empresa, mas não tenho o que reclamar, foi o lugar onde trabalhei cinco anos e não encontrei nenhum colega de trabalho pelego querendo-te foder, era um grupo bem unido.


ABDUÇÃO EXTREMA – Já se emocionou assistindo o filme “Ao Mestre com Carinho”?

CLODOALDO GRADICE – Ao Mestre com Carinho me remete às férias de julho, quando era criança, a Record sempre passava, lembra? Nunca chorei com este filme, mas o filme Língua das Mariposas foi uma flechada em brasa no meu coração, chorei muito. É um filme que se passa durante a Guerra Civil Espanhola, onde um professor idoso ensinava as crianças do primário sobre os valores mais simples da vida, longe da sala da aula, empirismo total!!!


ABDUÇÃO EXTREMA – Obrigado pela indicação, vou procurar esse filme Língua das Mariposas... Ok meu amigo, finalizando este tema, de acordo com toda sua vivência no âmbito escolar quais seriam suas sugestões para que houvesse de fato, uma reforma educacional coerente? Ou você acha que antes da reforma educacional, deveriam existir muitas outras reformas? Enfim, sinta-se a vontade em comentar sobre isso:

CLODOALDO GRADICE – É necessário sim que haja uma revolução em todas as esferas da sociedade, porque “reforma”, a palavra já se traduz por si só e passar um pano não vai adiantar... Todos os países que cresceram economicamente nos pós-guerras do século XX, investiram em educação,tinham consciência que só a educação salva vidas! Brasil não passou por guerras internas no século passado, apenas conflitos localizados entre os proletários contra as famílias oligárquicas presentes nos Estados. Estas mesmas famílias não querem ver a filha do porteiro na faculdade, a filha da empregada nos aeroportos, o filho do chofer no shopping dando um rolezinho, a burguesia brasileira é cruel, desumana, não tem coração. A educação aqui no Brasil segue a roteiro do neoliberalismo global, países como o Brasil não podem deixar o povo chegar a um degrau acima, não podem comer bem, não podem morar bem, tem que trabalhar e servir de capacho, por isso não existe um plano maciço para a educação, a elite tem medo. Não precisa ser um especialista para discutir este assunto, precisaríamos de assembleias, encontros, reuniões e fóruns para uma discussão ampla, justa e humana para educação a nível nacional, regional e local. Cada escola, cada bairro, cada Estado tem sua característica, as comunidades anseiam por motivos diferentes, por isso é tão complicado, mas não impossível. E tem mais, teria que ser discutido por diretores e professores que estão na ativa, não por acadêmicos, teóricos e professores de gabinetes que não sabem o que acontecem ou fazem vista grossa para os problemas da educação, escolas e comunidades.


ABDUÇÃO EXTREMA – É isso aí, eu acho que está sendo bastante proveitoso poder abordar este assunto diferenciado! Adorei demais suas respostas... Agora, vamos falar um pouco do Clodoaldo Mendigo e suas atividades no submundo! Gostaria de saber sobre os seus primeiros dias no Underground, como e quando você teve o seu primeiro contato? Qual foi a primeira banda que despertou seu interesse? Seu primeiro disco ou fita, enfim, diga-nos sobre o início de sua trajetória!

CLODOALDO GRADICE – Comecei a trabalhar com 15 anos, aos sábados saia ao meio dia do trabalho e comecei a me atirar no centro de São Paulo, que conhecia um pouco porque meu pai quando estava de folga me ensinava e me virar (aprender a andar nos centros, de ônibus, trem, metrô e etc). Comecei a frequentar a Woodstock, a Galeria do Rock e outras galerias adjacentes que também tinham lojas, mas pouco divulgadas e fui tendo contatos com zines, trocas de fitas etc. Revistas como Rock Brigade, Metal, tinham endereços de pessoas de diversas partes do Brasil que desejavam fazer trocas, trocar ideias, etc. Ai, eu e o Babu (um dos fundadores da banda Rot) que era meu vizinho, começamos a nos relacionar com pessoas do meio, acabamos conhecendo o Marcelo que começava a editar o United Forces zine, era da mesma cidade, Osasco, ai fudeu tudo... De Underground mesmo, o que tinha adquirido foram as demos da Slaughter, Death, Morbid Angel, e até Hellhammer, em se falando do que era possível neste submundo, depois vieram as bandas brasileiras e outras gringas, os contatos que o Marcelo tinha naquela época ajudou a gente conhecer muita coisa, do mundo inteiro.


ABDUÇÃO EXTREMA – E você se lembra do primeiro show em que foi? Quais as bandas que tocaram e quando foi?

CLODOALDO GRADICE – Acho que 1988-1989 por ai. Fui no último Aeroviários que teve (era uma associação do Sindicato dos Aviadores do Estado de São Paulo se não me engano), tocaram MX, acho que o Atommica, Holocausto e Ratos de Porão, foi um caos!!! Na hora que Ratos subiu ao palco, a galera tentou invadir para dar mosh, um dos organizadores desesperado com os fios à mostra e com medo do publico tomar choque... Holocausto de Minas Gerais foi ultrajado, humilhado, cusparado e afins. Tudo por causa daquele visual que não estou aqui para julgar se houve um mal entendido ou não, se eles não souberam a merda que tinham feito, ou se era pura inocência (digo sobre as suásticas que eles usaram na capa do primeiro disco), o povo enlouqueceu de vez, quebraram o banheiro, começaram a depredar todo o ambiente, os bangers saíram do local quebrando tudo que via na frente, quebraram vidraças, vidros dos carros, bancas de jornal foram tombadas, foi uma coisa insana.


ABDUÇÃO EXTREMA – A primeira vez que vi aquele visual também achei muito estranho, mas de qualquer forma, nas conversas que rolavam na época, era somente coisa visual mesmo, mas foi uma péssima escolha! Tem até foto da Guerrilha que, se não me engano, o Igor está com uma suástica na camiseta! Ok, continuando aqui sobre seus primeiros dias no submundo, sua primeira atividade além das trocas de tapes e zines, foi a Rigidity Cadaveric ou você chegou a fazer fanzines também?

CLODOALDO GRADICE – Minha primeira atividade foi com o Perpétuo, em 1987, com o Babu (que também tocou no Rigidity Cadaveric e Rot) Era uma banda que misturava Fear of War, Celtic Frost e Death, neste momento que o contato com os zines se fortaleceram.


ABDUÇÃO EXTREMA – Rot é uma banda que dispensa qualquer apresentação e apesar das mudanças na formação, vocês já estão ai na ativa desde 1990 não é? Você é o único membro da formação original?

CLODOALDO GRADICE – É, seria leviano da minha parte dizer que estivemos na ativa todos esses anos, em 2008 paramos por motivos particulares e voltamos em 2013, com a intenção de nos divertir, nos apresentar ao vivo, reencontrar amigos, etc.


ABDUÇÃO EXTREMA – Considerando a utilização da internet para a divulgação de bandas, shows, resenhas, reportagens e etc, qual sua opinião sobre os fanzines impressos hoje em dia?

CLODOALDO GRADICE - Como eu sou um cara das antigas, prefiro algo impresso do que digital, não sou saudosista. Não me habituo a ler nada muito grande pela tela de um computador, celular, laptop e afins. Acho que o problema agora seria saber se esta geração curte algo impresso, ou mesmo se existe um bom número de zines digitais e esta galera acompanha.


ABDUÇÃO EXTREMA – Mendigo, chegamos ao final! Quero lhe agradecer imensamente pelo seu tempo, disposição e paciência em responder esta entrevista. Se houver algo que gostaria de acrescentar, fique a vontade:

CLODOALDO GRADICE - Eu que agradeço, espero ter contribuído de alguma forma e fiquei muito feliz de ser convidado. E mais ainda em saber que você retornou com o zine, gratidão.


Contato: www.facebook.com/rotgrindcore

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