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Professor Zorel Bataiote


Nome: Zorel Bataiote

Nascimento: 22/06/1977

Naturalidade: “Dizem que sou brasileiro, outros que não, massss me sinto muito mais cidadão do mundo do que qualquer outra definição”.

Escolaridade: Pós-graduado em História da África

Profissão: Professor

Atividades: “Oba, esta é a melhor parte: organizar eventos "do it yourself" (leia, lançar discos, promover shows e eventos políticos, aprender com as pessoas, compartilhar o que conheço, tocar, tocar e tocar... conspirar com outras pessoas... e essas coisas de punk!)”.


ABDUÇÃO EXTREMA – Meu caro amigo Zorel, primeiramente gostaria de lhe agradecer por esta entrevista, e também, lhe parabenizar pelo seu papel tão importante e fundamental em nossa e para nossa sociedade! Infelizmente, uma grande parcela desta sociedade não vê desta forma, tanto quanto o próprio Estado não o vê:

ZOREL BATAIOTE – Sim, ao se tratar do que é o Estado, sempre vamos esperar o pior... O sucateamento proposital de tudo que deveria nos atender e que por vezes setores da sociedade chamam de direitos - educação e saúde - por exemplo. Se você menciona o ofício docente, bem, existe um projeto para "deseducar" as pessoas em nossa sociedade.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sua formação acadêmica é História da África! Há quanto tempo leciona e em qual rede escolar?

ZOREL BATAIOTE – Sou licenciado em História, com complementação em Filosofia e Sociologia. Daí fiz Pós-graduação em História da África. Percebi durante a graduação a ausência de estudos relacionados à África, assim como uma proposta de desconstrução do racismo. Sim, havia estudos que buscavam destruir esse etos branco, mas a mim não foi suficiente. E durante minha vida escolar, percebi o quanto o professorado carecia de formações científicas para a desconstrução de conceitos enraizados como racismo, homofobia, machismo e outros preconceitos cristalizados. Daí me lancei à docência superior. Hoje leciono numa faculdade em um curso de História semi-presencial, um colégio para o ensino médio e na educação de jovens e adultos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Poderia nos esclarecer um pouco mais sobre essas formas de desconstrução do racismo e, como professor, o que você tem feito para combater esses conceitos enraizados?

ZOREL BATAIOTE – Primeiramente não quero me colocar como protagonista dessa luta, me considero um apoiador dessa luta, uma vez que tenho privilégios por ser um homem branco. Contudo, pretendo ser um agente de destruição desses privilégios, me considero um branco antirracista ao lado das pessoas que sofrem essa violência. Nos ambientes escolares, todos os dias eu esbarro com alguma nuance de racismo, institucional ou social. São micro relações que são reproduzidas, que se naturalizaram. Minha tarefa é refutar essas ações... Desenvolvo discussões, oficinas escolares, reflexões, especialmente no atual cenário político nacional, com o crescimento de ideias fascistas transvestidas de soluções. Tenho visto muita gente jovem cedendo aos discursos extremos e ignorando valores caros a humanidade como tolerância, empatia, solidariedade em nome do ódio e vingança. Na verdade é um trabalho de formiguinha que desempenho,porém, creio que deva ser feito!


ABDUÇÃO EXTREMA – Isso significa que, muito além dos ensinamentos específicos da sua formação, você procura passar outros ensinamentos e mensagens para seus alunos, correto?

ZOREL BATAIOTE – Sim, eu me baseio muito na educação libertária, procuro transmitir o que posso desses valores e desse modo de vida. Uma coisa importante que preciso mencionar, eu só me tornei professor por acreditar no modo de vida Punk e anarquista, então ser professor para mim é mais do que trabalhar pelo meu sustento, claro, preciso de um meio de sobrevivência, mas não me agrada a ideia de limitar a vida somente a isso. Muito além de transmitir conhecimento, procuro instigar meus/minhas alunos/alunas a pensar por conta própria e construir eles/elas mesmos/as seus caminhos.


ABDUÇÃO EXTREMA – Muito bem! O tema principal nesta edição é a violência contra professores e professoras! Você já sofreu algum tipo de agressão física ou verbal algum dia?

ZOREL BATAIOTE – Olha, já sofri desacato, já fui testado, desafiado... Acho que isso é um pouco natural, pois ao adentrar a sala de aula, automaticamente nos transformamos em autoridades. Ao longo do tempo, quando essa ideia vai sendo desconstruída e se cria um clima de respeito mútuo, os espectros de violência vão desaparecendo. Já dei aula em lugares onde a violência era carro chefe: presídio, Fundação Casa, bairros afastados e carentes onde ninguém queria ir. Também vejo que a violência verbal ou física, é algo presente em nossa sociedade, então, não poderia estar fora da sala de aula. É um processo de retroalimentação.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sério que deu aula em presídio? Conheço professoras que deram aula em presídio e me falaram que os alunos presos são mais respeitosos que os alunos não presos...

ZOREL BATAIOTE – Sim, foi uma experiência incrível... Você se depara com cada realidade que daria para escrever contos surreais... Além de eu aprender a desenvolver métodos de lecionar, tive ótimos alunos, pena que o sistema carcerário não contribui para reabilitar o detento e devolvê-lo à sociedade menos nocivo do que antes de ser preso.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sabe-se que muitos dos casos de violência e indisciplina contra os professores, atribuem-se a alunos que vivem conflitos dentro de sua própria casa, contra os próprios pais que possuem um histórico de violência, dificuldade financeira, muitas vezes alcoolismo, enfim, uma série de fatores... Diante desse tipo de situação de conflito, qual a postura que você adota para resolver o problema na sala de aula?

ZOREL BATAIOTE – Procuro sempre usar o consenso e mediação, claro que às vezes minha paciência e energia chegam ao limite. Em casos extremos eu uso um discurso extremo, igual quando uma vez um aluno apareceu com uma tatuagem feita no braço - em alusão a uma facção criminosa - e a tatuagem estava toda inflamada. Provavelmente o material não havia sido esterilizado, a tinta devia ser qualquer coisa e a coisa estava feia... Como eu tenho tatuagens, chamei o garoto pra conversar e saber o que estava acontecendo, ele foi hostil comigo de pronto. Também, estava com dor, arrependido, frustrado e não seria diferente. Eu devolvi quase na mesma moeda, daí tirei minha camisa na sala de aula e falei pra ele: Mano se liga, eu sei o que estou te falando! Olha aqui, também tenho tatuagem como você! Ele entendeu quando eu fiquei sem camisa dando aula, daí pedi pra ele ir lavar o braço com água e sabão pra ver se melhorava um pouco... Depois de um tempo ele me pediu um contato de um tatuador de verdade pra concertar a cagada que tinha feito no braço.


ABDUÇÃO EXTREMA – Qual a faixa etária dos alunos aos quais você leciona?

ZOREL BATAIOTE – É bem variável, dos 14 anos aos 60... Claro que isso varia conforme as turmas de ensino médio, E.J.A. e universidade.


ABDUÇÃO EXTREMA – Eu ia perguntar se para você, ser professor é um desafio ou uma realização, ou quem sabe os dois, mas logo no início você já frisou que só se tornou professor por acreditar no modo de vida Punk e anarquista! Mesmo assim, é evidente que ser professor hoje em dia é um grande desafio! Qual sua profissão anterior?

ZOREL BATAIOTE – Sim, é um desafio enorme, baixos salários, condições de trabalho insalubres, competição, enfim, muita coisa ruim. Antes eu tinha um trabalho de balconista de lanchonete.


ABDUÇÃO EXTREMA – Há quanto tempo você leciona mesmo?

ZOREL BATAIOTE – 12 anos...


ABDUÇÃO EXTREMA – Já se emocionou assistindo o filme “Ao Mestre com Carinho”? Pode falar a verdade... Hehehe!

ZOREL BATAIOTE – Hahaha! Pra falar a verdade nunca assisti, meu ex-sogro vivia dizendo para eu assistir, mas como ele tinha um gosto meio duvidoso para filmes, eu não assisti por preconceito. Acho que vou tentar assistir agora que você disse que se emocionou, hehehe!


ABDUÇÃO EXTREMA – Hehehe, pode assistir! Já assisti várias vezes em épocas diferentes da minha vida! Um clássico do cinema, pelo menos para mim... Ok meu amigo, finalizando este tema, de acordo com toda sua vivência no âmbito escolar, quais seriam suas sugestões para que houvesse de fato, uma reforma educacional coerente? Ou você acha que antes da reforma educacional, deveriam existir muitas outras reformas? Enfim, sinta-se a vontade em comentar sobre isso:

ZOREL BATAIOTE – Bem, na minha singela opinião, as transformações que a sociedade precisa passar são muitas, a educação é apenas a ponta de um iceberg. Este caos acontece por não haver organização popular suficiente, muita gente comprou o sonho da classe média brasileira, passaram a se sentir virtualmente parte dessa fábula neoliberal, parcelando suas compras (a juros altíssimos) em 12, 24, 36, 1000 vezes e se embriagando no consumismo... A educação é apenas um caminho, dentre tantos outros, para transformar (não reformar) a sociedade.


ABDUÇÃO EXTREMA – Obrigado Zorel! Adorei demais suas respostas... Agora sim, vamos falar um pouco do Zorel e suas atividades no submundo! Gostaria de saber sobre os seus primeiros dias na cena Punk, como e quando você teve o seu primeiro contato? Qual foi a primeira banda que despertou seu interesse? Seu primeiro disco ou fita, enfim, diga-nos sobre o início de sua trajetória!

ZOREL BATAIOTE – Vamos lá... Eu comecei a me envolver com a cultura Punk por volta de 1988/89. No princípio era atraído pela música, até porque onde eu vivia não conheci de imediato os Punks locais. Levou alguns anos até encontrar com essa galera. Havia também o skate, que nessa época era muito próximo do Punk Rock e Hardcore. Bem, as bandas... hmmm... as primeiras que chegaram a mim foram as tradicionais: The Clash, Sex Pistols, Ramones, The Exploited (embora exista toda uma polêmica em torno dela), Ratos de Porão, Inocentes... eu tenho uma prima dois anos mais velha que eu que por algum motivo tinha esses sons na casa dela e eu comecei a conhecer muita coisa com ela, com o tempo, fui conhecendo outros Punx e outras bandas... Costumo dizer que o Punk salvou minha vida: eu cresci em um bairro que apesar de central, tinha muita criminalidade, então eu tinha duas opções: ou me tornava Punk ou me tornava bandido! Bem, não precisa dizer qual opção eu tomei. Hehehe!


ABDUÇÃO EXTREMA – Você se lembra do primeiro show em que foi? Quais as bandas que tocaram e quando foi?

ZOREL BATAIOTE – Foi em um campeonato de skate aqui em Sorocaba mesmo, tocaram bandas locais, uma mescla de bandas de Thrash/Crossover e Hardcore Punk... Quanto aos nomes infelizmente não lembro e infelizmente havia muitas tretas nesse período, acredito que foi por volta de 1989/1990, algo assim.


ABDUÇÃO EXTREMA – Sua primeira atividade Punk qual foi? Uma banda, um fanzine?

ZOREL BATAIOTE – Foram ambos, uma banda e um zine e tinham o mesmo nome, Sickness Hate. Não conseguimos gravar nada e tampouco fazer uma tiragem longa do zine que acabou se perdendo no tempo.


ABDUÇÃO EXTREMA – Eu sei que você tocou na Execradores, uma banda extremamente cultuada e respeitada no meio Punk/Anarcopunk. Você fez parte desde a formação inicial da banda e por quanto tempo estiveram em atividade?

ZOREL BATAIOTE – Eu entrei na Execradores em 1998, após a saída do Max, daí eu permaneci até final da banda em 2007. A banda ficou em atividade por 16 anos desde 1991.



ABDUÇÃO EXTREMA – Cara, analisando aqui você é um homem multi-bandas! Baterista na Tempos de Morte e vocalista na Katrastofe Social! Inclusive, esta última retornou esses dias de uma turnê europeia não foi? Sei que é um saco falar biografia de bandas em entrevistas, mas por favor, sinta-se a vontade em expor suas emoções relacionadas a essas bandas:

ZOREL BATAIOTE – Sim, foram várias bandas... Um adendo, na Katastrofe Social eu apenas sou muito próximos deles, não faço parte efetivamente da banda, certa vez toquei bateria enquanto o Gil se recuperava de um acidente e durante a tour eu fiz segundo vocal, diga-se de passagem, que tour foda foi essa! Eu toquei nas bandas: Contraste Bizarro, Execradores, Peligro, Anarphabétos, No Order, Diskontroll, Suit Side vs Veda Plight (Bélgica) e Tempos de Morte. É difícil falar de cada uma, pois cada qual representou um período, um contexto, uma necessidade, uma urgência... Nenhuma é menos ou mais, pelo contrário, cada uma contribuiu para minha construção.


ABDUÇÃO EXTREMA – Hehehe! São tantas que é praticamente uma cena completa! Falando em cena, o que você poderia nos dizer sobre a atual cena Punk, ou não necessariamente Punk, de Sorocaba? Quais bandas, zines e selos você recomendaria?

ZOREL BATAIOTE – Aqui, como em qualquer lugar, tem seus altos e baixos. Estamos numa fase legal atualmente, posso recomendar fortemente as bandas Afoite, Vermenoise, Untraps, Make it Stop! e Ameaça Fantasma.


ABDUÇÃO EXTREMA – Considerando a utilização da internet para a divulgação de bandas, shows, resenhas, reportagens e etc., qual sua opinião sobre os fanzines impressos hoje em dia?

ZOREL BATAIOTE – Tanto a internet quanto os zines impressos são importantes. Digo mais, acredito que materiais físicos e virtuais podem conviver bem juntos. Não dá para negar o uso e importância de ambos. Mesmo eu sendo um aficionado por vinil, o mp3 é um veículo legal para divulgar e espalhar material de bandas... Zines virtuais e físicos seguem a mesma lógica também...


ABDUÇÃO EXTREMA – Absolutamente, concordo com você e também não me oponho ao virtual! Chegamos ao final Zorel, quero lhe agradecer imensamente pelo seu tempo, disposição e paciência em responder esta entrevista. Se houver algo que gostaria de acrescentar, fique a vontade:

ZOREL BATAIOTE – Mosh, obrigado pelo interesse em minhas ideias, forte abraço e longa vida ao Abdução Extrema! Paz e anarquia!


Contatos: conspiracinque@yahoo.com.br - www.facebook.com/zorknup


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